SC Internacional, Ramones e Cerveja. Isso tudo existe e ainda tem quem reclame da vida.
quarta-feira, 13 de outubro de 2010
Filmes Que Tenho Visto
Nostalgia? Não, não sou tão velho assim pra ter saudade desse tempo, já que não o vivi. Estou apenas descobrindo esses clássicos. Parece que naquele tempo, falar em "cinema de arte" seria redundante. Pois creio que estes estavam entre os sucessos populares da época. Pelo menos os do Chaplin com certeza. Então se conclui que o "cinama de arte" era o popular da época. Ou talvez os filmes de arte são os que sobreviveram, e não estamos expostos ao lixo comercial da época. Possível, já que a verdadeira arte fica para a posteridade e o comercial descartável é, como o próprio nome diz, descartado independentemente do sucesso que tenha feito no seu tempo.
Bom, quero então sugerir ao leitor os quatro filmes acima. Quero sugerir ao leitor qualquer filme do Chaplin. É simplesmente genial. As expressões faciais e corporais. A comunicação de ideias e sentimentos sem dizer uma palavra. Mímica. Dança. Crítica social relevante tanto para a época quanto para hoje. Um estilo único, que tenta ser imitado sem o mesmo efeito, a meu ver, por muitos. Como "Os Trapalhões" por exemplo. Há uma cena no início de "O Grande Ditador" em que uma bomba está prestes a explodir onde está o personagem de Chaplin e ele corre apavorado em direção a onde estão outros três soldados, como que se escondendo atrás dos três. Eu já vi Os Trapalhões fazendo exatamente essa mesma coisa um zilhão de vezes. A cena em si é genial. Mas o Chaplin fez isso uma vez, não se repete sempre como fazem "os Trapa". Na próxima cena ele já está fazendo algo diferente e sempre muito cômico. Mas o Chaplin não é só um palhaço. Pra mim é um artista completo. Em seus filmes ele atua, dança, escreve, dirige e até compõe a trilha sonora. No "Tempos Modernos" ele até patina. Genial. Simplesmente genial.
Os outros dois filmes são com a Brigitte Bardot. Filmes uns 15-20 anos mais novos que os do Chaplin, mas igualmente interessantes. Chama a atenção como a Brigitte consegue ser sensual sem ser vulgar. É surpreendente a ousadia dos filmes para a realidade da época. Não é a toa que nos EUA dos anos 50 a França era vista como um lugar extremamente liberal. Imoral para os conservadores que gostam desse termo. Os dois filmes são muito bonitos. Tá, a beleza da atriz contribui parte fundamental para a beleza dos filmes. Mas os cenários também são muito bons. O filme do Godard (Contempt, ou Desprezo no título em português) é mais profundo. Mais filosófico. O "E Deus Criou a Mulher" foi o filme que lançou a Brigitte Bardot para o sucesso internacional. É mais simples. Mas a meu ver mostra melhor a realidade da época, enquanto o "Desprezo" é mais atemporal. Ambos são filmes que gostei muito. Recomendável assistir bebendo vinho.
Tá, pra não falarem que sou um velho chato, esses dias eu vi o "Inception". Realmente muito bom o filme. Mas é "outra cabeça". Outra realidade. É impressionante como pode ser catalogado no mesmo tipo de arte "cinema" que os filmes que discuti nesse post. Não sei se é melhor ou pior. Mas é com certeza um outro mundo. A tecnologia mudou absurdamente o cinema, assim como a música. Não sei se para melhor ou pior. Mas não recomendo assistir Inception bebendo vinho. Provavelmente quem o fizer não vai entender o filme. Fast food não cai bem com vinho. Faça como eu fiz e compre um daqueles baldes de Pepsi Cola no cinema que é mais apropriado. Putz, ficou injusto isso. Eu acabei criticando o Inception que é na verdade um baita filme. De verdade. Vale a pena ir ver no cinema.
terça-feira, 12 de outubro de 2010
Schopenhauer
"Um homem de índole mais elevada crê na juventude que os relacionamentos essenciais e decisivos, e as relações entre os homens, sejam aqueles ideais, ou seja, aqueles que se baseiam em afinidades de princípios, pensamentos, gostos, forças intelectuais, etc.; mais tarde, ele se dará conta que os relacionamentos na verdade são aqueles reais, ou seja, aqueles que se apoiam em algum interesse material. Estes últimos estão na base de quase todos os relacionamentos, a maior parte dos homens não tem sequer conhecimento de outros tipos de relação. Por conseguinte, cada um é levado em consideração de acordo com o seu ofício ou a sua profissão, a sua nacionalidade, a sua família, em outras palavras de acordo com a posição e o papel que a convenção social lhe atribuiu e é portanto classificado e tratado como mercadoria. Aquilo que a pessoa realmente é, como ser humano, aquilo que é graças a qualidades pessoais, é considerado apenas ocasionalmente e em situações excepcionais, sendo em geral completamente ignorado por todos. Quanto mais um homem elevar a própria auto-estima, menos aceitará esse mecanismo e buscará portanto afastar-se do seu domínio."
Tradução livre de trecho de uma edição italiana dos "Aforismos para a Sabedoria de Vida", de Arthur Schopenhauer.
sábado, 9 de outubro de 2010
Livro da Vez: O Diário de Anne Frank
As citações do texto que coloco aqui estão em inglês, tiradas da edição em inglês do diário que eu li. Sinto muito ao leitor que não entende o inglês, mas eu me senti incapaz de traduzir o sentimento expresso nas citações. Ainda sobre as citações, elas podem estragar um pouco alguma surpresa de quem for ler, mas acho que não muito. São apenas amostras do que é o diário em si. Enfim, se não quer saber detalhes de antemão, não leia o texto a seguir e leia o livro que é bem melhor e eu recomendo muito.
Ler o diário foi, pra mim, um grande prazer. E uma surpresa, pela capacidade que uma "guriazinha" de treze a quinze anos pode ter de escrever. É o tipo de texto em que se nota que o autor, a autora no caso, colocou ali o sentimento. Colocou ali sua honestidade. Em se tratando de uma auto-biografia, nos convidou a conhecer sua vida. Seus sentimentos, sua mais individual e pura intimidade. Talvez parte disso seja porque ela, pelo menos no início, não esperava que alguém além dela mesma fosse ler ou se importar com o que ela estava escrevendo. "it seems to me that later on neither I nor anyone else will be interested in the musings of a thirteen-year-old schoolgirl." O fato de o texto não ter inicialmente o objetivo de ser publicado o torna tão honesto quanto possível. E a honestidade, a sinceridade, a realidade de uma vida sem todas as censuras que a sociedade nos impõe é algo muito bonito e fascinante.
Escrevi um parágrafo sobre o diário de Anne Frank e sequer mencionei a guerra. Isso porque, na minha opinião não se trata de um livro sobre a guerra. Se trata muito mais da vida de uma adolescente. Seus sonhos, seus desejos, suas frustrações, suas dúvidas. Dúvidas que ela coloca de uma forma única. Verdadeira. Impressionante. Visceral, pelo menos pra mim. Com a peculiaridade de essa adolescência ter se dado em meio à segunda guerra mundial. A peculiaridade de ser a menina uma integrante do povo que mais sofreu naquela guerra. E a fatalidade de ela ter sido uma das vítimas daquele massacre. Mas não é também um livro sobre judeus. O texto é de uma humanidade tal que transcende qualquer dos rótulos étnico-religiosos que nós criamos para nos sentirmos melhores que aqueles que são ou acreditam em coisas só um pouco diferentes que nós. Não, o texto não é sobre o judaísmo ou sobre o anti-semitismo. A guerra é o pano de fundo. O cenário. O livro é simplesmente humano. É sobre uma criança - "We had a short circuit last night, and besides that, the guns were booming away until dawn. I still haven't got over my fear of planes and shooting, and I crawl into Father's bed nearly every night for confort. I know it sounds childish, but wait till it happens to you!" - e seu amadurecimento, apesar dos pesares. Apesar das dificuldades. Apesar de tudo, ela tinha que crescer, florescer e expressar esse amadurecimento de uma forma encantadora para todos que queiram admirá-lo.
É um livro sobre amadurecimento: "Sometimes, when I lie in bed I feel a terrible urge to touch my breasts and listen to the quiet, steady beating of my heart. Unconsciously, I had these feelings even before I came here. Once, when I was spending the night at Jacque's, I could no longer restrain my curiosity about her body [...] I asked her whether, as proof of our friendship, we could touch each other's breasts. Jacque refused. I also had a terrible desire to kiss her, which I did.". E sobre a inocência de uma adolescente nos anos 30: "A week ago, even a day ago, if you'd asked me, 'Which of your friends do you think you'd be most likely to marry?' I'd have answered 'Sally', since he makes me feel good, peaceful and safe!' But now I'd cry, 'Petel, because I love him with all my heart and all my soul. I surrender myself completely!' Except for that one thing: he can touch my face, but that's as far as it goes."
A menina é muito madura para a idade ao discutir temas complexos como feminismo, política e claro, o grande assunto de então, a guerra. Guerra que para ela e todos os envolvidos era constante causa de medo, desespero. Ainda que, no caso dela, sem perder a esperança. "I've reached the point where I hardly care whether I live or die. The world will keep on turning without me, and I can't do anything to change events anyway. I'll just let matters take their course and concentrate on studying and hope that everything will be alright at the end."
E, como todo o diário, é também uma invasão aos sentimentos mais íntimos da autora. Intimidade nos sentimentos (ou falta de) sobre a mãe - "I can't talk to her, I can't look lovingly into those cold eyes, I can't. Not ever! -If she had even one quality an understanding mother is supposed to have, gentleness or friendliness or patience or something, I'd keep trying to get close to her. But as for loving this insensitive person, this mocking creature-it's becoming more and more impossible every day!"
Passagem muito curiosa e, de certa forma, bonita: "When you are standing up, all you see from the front is hair. Between your legs there are two soft, cushiony things, also covered with hair, which press together when you are standing, so you can't see what's inside. They separate when you sit down […detalhada descrição anatômica...] The hole's so small I can barely imagine how a man could get in there, much less how a baby could come out. It's hard enough trying to get your index finger inside. That's all that is, and yet it plays such an important role!"
Encerro com uma pequena frase do fim do diário: "Maybe, Margot says, I can even go back to school in September or October.". Especialmente comovente porque sabemos que ela morreria poucos meses depois, em um campo de concentração. Ela que queria tão pura e simplesmente voltar pra escola. Se algum dos leitores do blog tiver alguma explicação racional para a guerra, favor compartilhar nos comentários.
Ler o diário foi, pra mim, um grande prazer. E uma surpresa, pela capacidade que uma "guriazinha" de treze a quinze anos pode ter de escrever. É o tipo de texto em que se nota que o autor, a autora no caso, colocou ali o sentimento. Colocou ali sua honestidade. Em se tratando de uma auto-biografia, nos convidou a conhecer sua vida. Seus sentimentos, sua mais individual e pura intimidade. Talvez parte disso seja porque ela, pelo menos no início, não esperava que alguém além dela mesma fosse ler ou se importar com o que ela estava escrevendo. "it seems to me that later on neither I nor anyone else will be interested in the musings of a thirteen-year-old schoolgirl." O fato de o texto não ter inicialmente o objetivo de ser publicado o torna tão honesto quanto possível. E a honestidade, a sinceridade, a realidade de uma vida sem todas as censuras que a sociedade nos impõe é algo muito bonito e fascinante.
Escrevi um parágrafo sobre o diário de Anne Frank e sequer mencionei a guerra. Isso porque, na minha opinião não se trata de um livro sobre a guerra. Se trata muito mais da vida de uma adolescente. Seus sonhos, seus desejos, suas frustrações, suas dúvidas. Dúvidas que ela coloca de uma forma única. Verdadeira. Impressionante. Visceral, pelo menos pra mim. Com a peculiaridade de essa adolescência ter se dado em meio à segunda guerra mundial. A peculiaridade de ser a menina uma integrante do povo que mais sofreu naquela guerra. E a fatalidade de ela ter sido uma das vítimas daquele massacre. Mas não é também um livro sobre judeus. O texto é de uma humanidade tal que transcende qualquer dos rótulos étnico-religiosos que nós criamos para nos sentirmos melhores que aqueles que são ou acreditam em coisas só um pouco diferentes que nós. Não, o texto não é sobre o judaísmo ou sobre o anti-semitismo. A guerra é o pano de fundo. O cenário. O livro é simplesmente humano. É sobre uma criança - "We had a short circuit last night, and besides that, the guns were booming away until dawn. I still haven't got over my fear of planes and shooting, and I crawl into Father's bed nearly every night for confort. I know it sounds childish, but wait till it happens to you!" - e seu amadurecimento, apesar dos pesares. Apesar das dificuldades. Apesar de tudo, ela tinha que crescer, florescer e expressar esse amadurecimento de uma forma encantadora para todos que queiram admirá-lo.
É um livro sobre amadurecimento: "Sometimes, when I lie in bed I feel a terrible urge to touch my breasts and listen to the quiet, steady beating of my heart. Unconsciously, I had these feelings even before I came here. Once, when I was spending the night at Jacque's, I could no longer restrain my curiosity about her body [...] I asked her whether, as proof of our friendship, we could touch each other's breasts. Jacque refused. I also had a terrible desire to kiss her, which I did.". E sobre a inocência de uma adolescente nos anos 30: "A week ago, even a day ago, if you'd asked me, 'Which of your friends do you think you'd be most likely to marry?' I'd have answered 'Sally', since he makes me feel good, peaceful and safe!' But now I'd cry, 'Petel, because I love him with all my heart and all my soul. I surrender myself completely!' Except for that one thing: he can touch my face, but that's as far as it goes."
A menina é muito madura para a idade ao discutir temas complexos como feminismo, política e claro, o grande assunto de então, a guerra. Guerra que para ela e todos os envolvidos era constante causa de medo, desespero. Ainda que, no caso dela, sem perder a esperança. "I've reached the point where I hardly care whether I live or die. The world will keep on turning without me, and I can't do anything to change events anyway. I'll just let matters take their course and concentrate on studying and hope that everything will be alright at the end."
E, como todo o diário, é também uma invasão aos sentimentos mais íntimos da autora. Intimidade nos sentimentos (ou falta de) sobre a mãe - "I can't talk to her, I can't look lovingly into those cold eyes, I can't. Not ever! -If she had even one quality an understanding mother is supposed to have, gentleness or friendliness or patience or something, I'd keep trying to get close to her. But as for loving this insensitive person, this mocking creature-it's becoming more and more impossible every day!"
Passagem muito curiosa e, de certa forma, bonita: "When you are standing up, all you see from the front is hair. Between your legs there are two soft, cushiony things, also covered with hair, which press together when you are standing, so you can't see what's inside. They separate when you sit down […detalhada descrição anatômica...] The hole's so small I can barely imagine how a man could get in there, much less how a baby could come out. It's hard enough trying to get your index finger inside. That's all that is, and yet it plays such an important role!"
Encerro com uma pequena frase do fim do diário: "Maybe, Margot says, I can even go back to school in September or October.". Especialmente comovente porque sabemos que ela morreria poucos meses depois, em um campo de concentração. Ela que queria tão pura e simplesmente voltar pra escola. Se algum dos leitores do blog tiver alguma explicação racional para a guerra, favor compartilhar nos comentários.
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