SC Internacional, Ramones e Cerveja. Isso tudo existe e ainda tem quem reclame da vida.
segunda-feira, 27 de dezembro de 2010
quinta-feira, 2 de dezembro de 2010
Cavernas Partidárias
Nesse período pós eleições de montagem dos governos, surgiu na comunidade da minha cidade no Orkut uma discussão a respeito da escolha de ministros e secretários de governos estaduais. A questão daquele debate que eu quero apresentar aqui é a questão da importância do escolhido ter "mérito político" versus "mérito técnico". É comum a visão de que ambos são importantes.
A pergunta chave seria: Por que diabos é importante o "mérito político" em cargos como ministérios, secretarias estaduais, municipais e etc? Por que são tão (ou mais?!) importantes que questões técnicas??
A única vantagem que eu vejo na "questão política" é a capacidade de "convencer" mais deputados, senadores ou vereadores. É só isso mesmo ou eu perdi alguma coisa do que seria "mérito político"? Eu acho isso uma distorção do sistema, já que na verdade o ministro/secretário não convence ninguém que o projeto dele é bom ou ruim por "questões políticas". Ele apenas é aprovado pela cor do partido dele. Poxa, pra mim o correto seria o cara convencer a todos (ou a maioria) que o projeto é tecnicamente bom. E que os parlamentares aprovassem projetos que achassem tecnicamente bons, sem qualquer preconceito de cor partidária. Eu acho que o melhor pra população seria isso. O problema é que nenhum partido ou governo se preocupa de fato com a população. Eu acho uma distorção absurda.
Se eu fosse governo eu nomearia ministros/secretários única e exclusivamente por questões técnicas e daria preferência até por pessoas que nunca manifestaram posição partidária. Aí os parlamentares que se virassem pra de fato ter que ler o projeto e decidir se é bom ou não. Afinal eles são muito bem pagos pra isso.
Mas o sistema é tão distorcido que minha estratégia não funcionaria, pois os técnicos seriam vistos como sendo do partido do governo e os parlamentares votariam com esse pensamento, nunca com o mérito do projeto e a população em mente. Sinceramente eu acho que esse sistema político de partidos tem problemas graves. Ninguém quer pensar. É mais fácil escolher cores que avaliar projetos. É triste mas é verdade.
Então, nesse raciocínio, eu poderia fazer a mesma pergunta pro militante de qualquer partido: "Tu preferes que seja aprovado um projeto tecnicamente ruim para o Brasil do teu partido preferido ou um projeto tecnicamente bom para o Brasil do partido que mais detestas?". Não sei o que eles responderiam. Talvez respondam o que faz sentido (assumindo que querem o melhor para o Brasil). O problema é que na prática talvez eles não tomem esse tipo de decisão. O que acontece é que quando se está dentro de uma das verdadeiras cavernas de Platão que são os partidos e "ideologias" políticas, todas as ideias do partido em questão são melhores que todas as ideias de qualquer partido adversário. Isso simplesmente não pode ser verdade, a menos que exista um partido ideal e perfeito. Se existir, eu me filio agora mesmo. Mas acho difícil que exista. Nunca se observou na natureza até hoje nada que seja ideal e perfeito. Dificilmente se observaria tal coisa na política brasileira e mundial. Se concordarmos então, que não há o tal "partido ideal", a alternativa mais benéfica me parece ser analisar tecnicamente e sem partidarismo projeto a projeto. Tecnica, honesta e cientificamente escolher o melhor para a população. Mas quem acredita que algum político vai querer o que é melhor para a população em detrimento do partido dele...
A pergunta chave seria: Por que diabos é importante o "mérito político" em cargos como ministérios, secretarias estaduais, municipais e etc? Por que são tão (ou mais?!) importantes que questões técnicas??
A única vantagem que eu vejo na "questão política" é a capacidade de "convencer" mais deputados, senadores ou vereadores. É só isso mesmo ou eu perdi alguma coisa do que seria "mérito político"? Eu acho isso uma distorção do sistema, já que na verdade o ministro/secretário não convence ninguém que o projeto dele é bom ou ruim por "questões políticas". Ele apenas é aprovado pela cor do partido dele. Poxa, pra mim o correto seria o cara convencer a todos (ou a maioria) que o projeto é tecnicamente bom. E que os parlamentares aprovassem projetos que achassem tecnicamente bons, sem qualquer preconceito de cor partidária. Eu acho que o melhor pra população seria isso. O problema é que nenhum partido ou governo se preocupa de fato com a população. Eu acho uma distorção absurda.
Se eu fosse governo eu nomearia ministros/secretários única e exclusivamente por questões técnicas e daria preferência até por pessoas que nunca manifestaram posição partidária. Aí os parlamentares que se virassem pra de fato ter que ler o projeto e decidir se é bom ou não. Afinal eles são muito bem pagos pra isso.
Mas o sistema é tão distorcido que minha estratégia não funcionaria, pois os técnicos seriam vistos como sendo do partido do governo e os parlamentares votariam com esse pensamento, nunca com o mérito do projeto e a população em mente. Sinceramente eu acho que esse sistema político de partidos tem problemas graves. Ninguém quer pensar. É mais fácil escolher cores que avaliar projetos. É triste mas é verdade.
Então, nesse raciocínio, eu poderia fazer a mesma pergunta pro militante de qualquer partido: "Tu preferes que seja aprovado um projeto tecnicamente ruim para o Brasil do teu partido preferido ou um projeto tecnicamente bom para o Brasil do partido que mais detestas?". Não sei o que eles responderiam. Talvez respondam o que faz sentido (assumindo que querem o melhor para o Brasil). O problema é que na prática talvez eles não tomem esse tipo de decisão. O que acontece é que quando se está dentro de uma das verdadeiras cavernas de Platão que são os partidos e "ideologias" políticas, todas as ideias do partido em questão são melhores que todas as ideias de qualquer partido adversário. Isso simplesmente não pode ser verdade, a menos que exista um partido ideal e perfeito. Se existir, eu me filio agora mesmo. Mas acho difícil que exista. Nunca se observou na natureza até hoje nada que seja ideal e perfeito. Dificilmente se observaria tal coisa na política brasileira e mundial. Se concordarmos então, que não há o tal "partido ideal", a alternativa mais benéfica me parece ser analisar tecnicamente e sem partidarismo projeto a projeto. Tecnica, honesta e cientificamente escolher o melhor para a população. Mas quem acredita que algum político vai querer o que é melhor para a população em detrimento do partido dele...
sexta-feira, 26 de novembro de 2010
Rio de Janeiro
Houve ontem e continua hoje uma mega-operação das forças da ordem envolvendo o BOPE, a polícia militar, a polícia federal, a polícia civil, a marinha, o exército e a aeronáutica na cidade do Rio de Janeiro. Estive olhando na televisão e as imagens são de guerra. Mas pelo menos pelo que eu vi, de longe e pela imprensa, me parece estar agindo certo o poder público. Já era hora de tentar dar um basta ao verdadeiro exército de traficantes que se viu ontem nas imagens da televisão. Falando em imagens, vou usar o conceito que diz que uma imagem vale mais do que mil palavras e ilustrar o post com a imagem mais expressiva que encontrei na imprensa.
segunda-feira, 22 de novembro de 2010
As Mulheres e o Paintball
Devem existir umas duzentas mil maneiras desse post ser mal interpretado, mas vou escrever mesmo assim. Talvez alguém entenda o que quero dizer.
Ainda antes de ontem, no trem, subiram cinco gurias de uns 20 anos mais ou menos. Elas eram todas grandalhonas. Vestiam-se no estilo tênis, jeans e moletom. Conversavam sobre paintball (ou alguma variante eletrônica de paintball). Falavam alto, praticamente aos gritos sobre estratégias de guerra. Como eram cinco e só haviam três lugares vagos, sentaram umas no colo das outras. Duas delas dividiam um iPod, cada uma ouvindo de um fone. Pra mim nada pode ser menos feminino que uma garota narrando quantas pessoas fusilou com a mesma entonação, velocidade e volume com que o Pedro Ernesto Denardim narra um contra-ataque do Inter em jogo decisivo de Libertadores. Por favor, não vá ninguém que joga paintball se ofender. Elas poderiam estar falando sobre basquetebol e me dar a mesma impressão. Existem maneiras femininas de se jogar paintball.
A coisa mais feminina que aconteceu na quase uma hora de papo delas que presenciei foi quando uma disse pra outra:
- E aí, tá namorando o fulano?
- Er, é, uh, mais ou menos! (já olhando pra outra guria e tentando fugir do assunto)
- Oh, che carina! (uma mistura de "que bonitinha" com "que simpática", apertando a bochecha da amiga)
Outro exemplo, a tal Mayara que ficou famosa pelo preconceito estúpido pós-eleições. Deixando de fora um instante a estupidez do preconceito em si, chamo a atenção para a forma em que ela expressa o preconceito. Fala em "matar afogadas" as pessoas. Isso é coisa "de homem". É de uma violência e estupidez que são das piores coisas "de homem" que existem. Triste ver algo assim saindo de uma menina.
Existem correntes do feminismo que pregam que a mulher deve chegar pro homem e falar algo como: "Escuta aqui o seu filho da puta: eu quero isso, isso e aquilo! Tenho direito a tal e tal coisa! Tá ouvindo porra!?!?" Elas têm direito mesmo. Eu sou totalmente a favor dos direitos iguais, da independência feminina e tudo mais. Mas pelo menos comigo, não sei dos outros homens, uma mulher tem milhões de maneiras mais eficazes de conseguir o que quer e tem direito do que berrando desse jeito.
Em resumo, o que eu quero dizer é que acho que o mundo vai ser muito chato se todo mundo "virar homem". Será que não é possível a igualdade mantendo as diferenças saudáveis? Será que a emancipação do feminino tem que ser o fim do próprio feminino? Houve um tempo em que se dizia que se as mulheres governassem o mundo não existiriam guerras. Será que isso ainda é verdade? São dúvidas que eu tenho hoje.
Nem tudo está perdido, no dia seguinte, também no trem eu vi gurias "normais" falando em um tom de voz normal sobre fotos, sobre um mosaico que uma delas estava fazendo. Coisa mais bonitinha.
Ainda antes de ontem, no trem, subiram cinco gurias de uns 20 anos mais ou menos. Elas eram todas grandalhonas. Vestiam-se no estilo tênis, jeans e moletom. Conversavam sobre paintball (ou alguma variante eletrônica de paintball). Falavam alto, praticamente aos gritos sobre estratégias de guerra. Como eram cinco e só haviam três lugares vagos, sentaram umas no colo das outras. Duas delas dividiam um iPod, cada uma ouvindo de um fone. Pra mim nada pode ser menos feminino que uma garota narrando quantas pessoas fusilou com a mesma entonação, velocidade e volume com que o Pedro Ernesto Denardim narra um contra-ataque do Inter em jogo decisivo de Libertadores. Por favor, não vá ninguém que joga paintball se ofender. Elas poderiam estar falando sobre basquetebol e me dar a mesma impressão. Existem maneiras femininas de se jogar paintball.
A coisa mais feminina que aconteceu na quase uma hora de papo delas que presenciei foi quando uma disse pra outra:
- E aí, tá namorando o fulano?
- Er, é, uh, mais ou menos! (já olhando pra outra guria e tentando fugir do assunto)
- Oh, che carina! (uma mistura de "que bonitinha" com "que simpática", apertando a bochecha da amiga)
Outro exemplo, a tal Mayara que ficou famosa pelo preconceito estúpido pós-eleições. Deixando de fora um instante a estupidez do preconceito em si, chamo a atenção para a forma em que ela expressa o preconceito. Fala em "matar afogadas" as pessoas. Isso é coisa "de homem". É de uma violência e estupidez que são das piores coisas "de homem" que existem. Triste ver algo assim saindo de uma menina.
Existem correntes do feminismo que pregam que a mulher deve chegar pro homem e falar algo como: "Escuta aqui o seu filho da puta: eu quero isso, isso e aquilo! Tenho direito a tal e tal coisa! Tá ouvindo porra!?!?" Elas têm direito mesmo. Eu sou totalmente a favor dos direitos iguais, da independência feminina e tudo mais. Mas pelo menos comigo, não sei dos outros homens, uma mulher tem milhões de maneiras mais eficazes de conseguir o que quer e tem direito do que berrando desse jeito.
Em resumo, o que eu quero dizer é que acho que o mundo vai ser muito chato se todo mundo "virar homem". Será que não é possível a igualdade mantendo as diferenças saudáveis? Será que a emancipação do feminino tem que ser o fim do próprio feminino? Houve um tempo em que se dizia que se as mulheres governassem o mundo não existiriam guerras. Será que isso ainda é verdade? São dúvidas que eu tenho hoje.
Nem tudo está perdido, no dia seguinte, também no trem eu vi gurias "normais" falando em um tom de voz normal sobre fotos, sobre um mosaico que uma delas estava fazendo. Coisa mais bonitinha.
terça-feira, 9 de novembro de 2010
Lennon
Uma imagem do John, só porque todo mundo está falando do Paul. A imagem é de um tal Leonid Afremov e pode ser adquirida neste link.
quinta-feira, 4 de novembro de 2010
Eleições
Venho falar de eleições só agora, depois de encerrado o pleito pois não gostaria de fazer campanha para nenhum candidato, nem correr o risco de fazê-lo indiretamente. Escrevo apenas para registrar minha insatisfação com o nível dos candidatos e da campanha que tivemos. Uma campanha que se baseia em arremesso de fita crepe e em discursos para agradar religiosos em um país cujo governo deveria ser laico não me agrada nem um pouco. De longe não pude acompanhar a campanha em grandes detalhes nem ver o horário eleitoral gratuito, mas as informações que me chegaram pela Internet são de que o nível foi realmente lamentável. E pra completar, elegeram um palhaço analfabeto. Uma verdadeira piada de mal gosto. No fim, para presidente, o povo acabou escolhendo a candidata que talvez seja a menos pior. Agora cabe a todos nós apoiarmos e torcermos que a nova presidente consiga fazer o que for possível para o desenvolvimento do nosso Brasil. Boa Sorte presidente Dilma Rousseff.
quarta-feira, 13 de outubro de 2010
Filmes Que Tenho Visto
Nostalgia? Não, não sou tão velho assim pra ter saudade desse tempo, já que não o vivi. Estou apenas descobrindo esses clássicos. Parece que naquele tempo, falar em "cinema de arte" seria redundante. Pois creio que estes estavam entre os sucessos populares da época. Pelo menos os do Chaplin com certeza. Então se conclui que o "cinama de arte" era o popular da época. Ou talvez os filmes de arte são os que sobreviveram, e não estamos expostos ao lixo comercial da época. Possível, já que a verdadeira arte fica para a posteridade e o comercial descartável é, como o próprio nome diz, descartado independentemente do sucesso que tenha feito no seu tempo.
Bom, quero então sugerir ao leitor os quatro filmes acima. Quero sugerir ao leitor qualquer filme do Chaplin. É simplesmente genial. As expressões faciais e corporais. A comunicação de ideias e sentimentos sem dizer uma palavra. Mímica. Dança. Crítica social relevante tanto para a época quanto para hoje. Um estilo único, que tenta ser imitado sem o mesmo efeito, a meu ver, por muitos. Como "Os Trapalhões" por exemplo. Há uma cena no início de "O Grande Ditador" em que uma bomba está prestes a explodir onde está o personagem de Chaplin e ele corre apavorado em direção a onde estão outros três soldados, como que se escondendo atrás dos três. Eu já vi Os Trapalhões fazendo exatamente essa mesma coisa um zilhão de vezes. A cena em si é genial. Mas o Chaplin fez isso uma vez, não se repete sempre como fazem "os Trapa". Na próxima cena ele já está fazendo algo diferente e sempre muito cômico. Mas o Chaplin não é só um palhaço. Pra mim é um artista completo. Em seus filmes ele atua, dança, escreve, dirige e até compõe a trilha sonora. No "Tempos Modernos" ele até patina. Genial. Simplesmente genial.
Os outros dois filmes são com a Brigitte Bardot. Filmes uns 15-20 anos mais novos que os do Chaplin, mas igualmente interessantes. Chama a atenção como a Brigitte consegue ser sensual sem ser vulgar. É surpreendente a ousadia dos filmes para a realidade da época. Não é a toa que nos EUA dos anos 50 a França era vista como um lugar extremamente liberal. Imoral para os conservadores que gostam desse termo. Os dois filmes são muito bonitos. Tá, a beleza da atriz contribui parte fundamental para a beleza dos filmes. Mas os cenários também são muito bons. O filme do Godard (Contempt, ou Desprezo no título em português) é mais profundo. Mais filosófico. O "E Deus Criou a Mulher" foi o filme que lançou a Brigitte Bardot para o sucesso internacional. É mais simples. Mas a meu ver mostra melhor a realidade da época, enquanto o "Desprezo" é mais atemporal. Ambos são filmes que gostei muito. Recomendável assistir bebendo vinho.
Tá, pra não falarem que sou um velho chato, esses dias eu vi o "Inception". Realmente muito bom o filme. Mas é "outra cabeça". Outra realidade. É impressionante como pode ser catalogado no mesmo tipo de arte "cinema" que os filmes que discuti nesse post. Não sei se é melhor ou pior. Mas é com certeza um outro mundo. A tecnologia mudou absurdamente o cinema, assim como a música. Não sei se para melhor ou pior. Mas não recomendo assistir Inception bebendo vinho. Provavelmente quem o fizer não vai entender o filme. Fast food não cai bem com vinho. Faça como eu fiz e compre um daqueles baldes de Pepsi Cola no cinema que é mais apropriado. Putz, ficou injusto isso. Eu acabei criticando o Inception que é na verdade um baita filme. De verdade. Vale a pena ir ver no cinema.
terça-feira, 12 de outubro de 2010
Schopenhauer
"Um homem de índole mais elevada crê na juventude que os relacionamentos essenciais e decisivos, e as relações entre os homens, sejam aqueles ideais, ou seja, aqueles que se baseiam em afinidades de princípios, pensamentos, gostos, forças intelectuais, etc.; mais tarde, ele se dará conta que os relacionamentos na verdade são aqueles reais, ou seja, aqueles que se apoiam em algum interesse material. Estes últimos estão na base de quase todos os relacionamentos, a maior parte dos homens não tem sequer conhecimento de outros tipos de relação. Por conseguinte, cada um é levado em consideração de acordo com o seu ofício ou a sua profissão, a sua nacionalidade, a sua família, em outras palavras de acordo com a posição e o papel que a convenção social lhe atribuiu e é portanto classificado e tratado como mercadoria. Aquilo que a pessoa realmente é, como ser humano, aquilo que é graças a qualidades pessoais, é considerado apenas ocasionalmente e em situações excepcionais, sendo em geral completamente ignorado por todos. Quanto mais um homem elevar a própria auto-estima, menos aceitará esse mecanismo e buscará portanto afastar-se do seu domínio."
Tradução livre de trecho de uma edição italiana dos "Aforismos para a Sabedoria de Vida", de Arthur Schopenhauer.
sábado, 9 de outubro de 2010
Livro da Vez: O Diário de Anne Frank
As citações do texto que coloco aqui estão em inglês, tiradas da edição em inglês do diário que eu li. Sinto muito ao leitor que não entende o inglês, mas eu me senti incapaz de traduzir o sentimento expresso nas citações. Ainda sobre as citações, elas podem estragar um pouco alguma surpresa de quem for ler, mas acho que não muito. São apenas amostras do que é o diário em si. Enfim, se não quer saber detalhes de antemão, não leia o texto a seguir e leia o livro que é bem melhor e eu recomendo muito.
Ler o diário foi, pra mim, um grande prazer. E uma surpresa, pela capacidade que uma "guriazinha" de treze a quinze anos pode ter de escrever. É o tipo de texto em que se nota que o autor, a autora no caso, colocou ali o sentimento. Colocou ali sua honestidade. Em se tratando de uma auto-biografia, nos convidou a conhecer sua vida. Seus sentimentos, sua mais individual e pura intimidade. Talvez parte disso seja porque ela, pelo menos no início, não esperava que alguém além dela mesma fosse ler ou se importar com o que ela estava escrevendo. "it seems to me that later on neither I nor anyone else will be interested in the musings of a thirteen-year-old schoolgirl." O fato de o texto não ter inicialmente o objetivo de ser publicado o torna tão honesto quanto possível. E a honestidade, a sinceridade, a realidade de uma vida sem todas as censuras que a sociedade nos impõe é algo muito bonito e fascinante.
Escrevi um parágrafo sobre o diário de Anne Frank e sequer mencionei a guerra. Isso porque, na minha opinião não se trata de um livro sobre a guerra. Se trata muito mais da vida de uma adolescente. Seus sonhos, seus desejos, suas frustrações, suas dúvidas. Dúvidas que ela coloca de uma forma única. Verdadeira. Impressionante. Visceral, pelo menos pra mim. Com a peculiaridade de essa adolescência ter se dado em meio à segunda guerra mundial. A peculiaridade de ser a menina uma integrante do povo que mais sofreu naquela guerra. E a fatalidade de ela ter sido uma das vítimas daquele massacre. Mas não é também um livro sobre judeus. O texto é de uma humanidade tal que transcende qualquer dos rótulos étnico-religiosos que nós criamos para nos sentirmos melhores que aqueles que são ou acreditam em coisas só um pouco diferentes que nós. Não, o texto não é sobre o judaísmo ou sobre o anti-semitismo. A guerra é o pano de fundo. O cenário. O livro é simplesmente humano. É sobre uma criança - "We had a short circuit last night, and besides that, the guns were booming away until dawn. I still haven't got over my fear of planes and shooting, and I crawl into Father's bed nearly every night for confort. I know it sounds childish, but wait till it happens to you!" - e seu amadurecimento, apesar dos pesares. Apesar das dificuldades. Apesar de tudo, ela tinha que crescer, florescer e expressar esse amadurecimento de uma forma encantadora para todos que queiram admirá-lo.
É um livro sobre amadurecimento: "Sometimes, when I lie in bed I feel a terrible urge to touch my breasts and listen to the quiet, steady beating of my heart. Unconsciously, I had these feelings even before I came here. Once, when I was spending the night at Jacque's, I could no longer restrain my curiosity about her body [...] I asked her whether, as proof of our friendship, we could touch each other's breasts. Jacque refused. I also had a terrible desire to kiss her, which I did.". E sobre a inocência de uma adolescente nos anos 30: "A week ago, even a day ago, if you'd asked me, 'Which of your friends do you think you'd be most likely to marry?' I'd have answered 'Sally', since he makes me feel good, peaceful and safe!' But now I'd cry, 'Petel, because I love him with all my heart and all my soul. I surrender myself completely!' Except for that one thing: he can touch my face, but that's as far as it goes."
A menina é muito madura para a idade ao discutir temas complexos como feminismo, política e claro, o grande assunto de então, a guerra. Guerra que para ela e todos os envolvidos era constante causa de medo, desespero. Ainda que, no caso dela, sem perder a esperança. "I've reached the point where I hardly care whether I live or die. The world will keep on turning without me, and I can't do anything to change events anyway. I'll just let matters take their course and concentrate on studying and hope that everything will be alright at the end."
E, como todo o diário, é também uma invasão aos sentimentos mais íntimos da autora. Intimidade nos sentimentos (ou falta de) sobre a mãe - "I can't talk to her, I can't look lovingly into those cold eyes, I can't. Not ever! -If she had even one quality an understanding mother is supposed to have, gentleness or friendliness or patience or something, I'd keep trying to get close to her. But as for loving this insensitive person, this mocking creature-it's becoming more and more impossible every day!"
Passagem muito curiosa e, de certa forma, bonita: "When you are standing up, all you see from the front is hair. Between your legs there are two soft, cushiony things, also covered with hair, which press together when you are standing, so you can't see what's inside. They separate when you sit down […detalhada descrição anatômica...] The hole's so small I can barely imagine how a man could get in there, much less how a baby could come out. It's hard enough trying to get your index finger inside. That's all that is, and yet it plays such an important role!"
Encerro com uma pequena frase do fim do diário: "Maybe, Margot says, I can even go back to school in September or October.". Especialmente comovente porque sabemos que ela morreria poucos meses depois, em um campo de concentração. Ela que queria tão pura e simplesmente voltar pra escola. Se algum dos leitores do blog tiver alguma explicação racional para a guerra, favor compartilhar nos comentários.
Ler o diário foi, pra mim, um grande prazer. E uma surpresa, pela capacidade que uma "guriazinha" de treze a quinze anos pode ter de escrever. É o tipo de texto em que se nota que o autor, a autora no caso, colocou ali o sentimento. Colocou ali sua honestidade. Em se tratando de uma auto-biografia, nos convidou a conhecer sua vida. Seus sentimentos, sua mais individual e pura intimidade. Talvez parte disso seja porque ela, pelo menos no início, não esperava que alguém além dela mesma fosse ler ou se importar com o que ela estava escrevendo. "it seems to me that later on neither I nor anyone else will be interested in the musings of a thirteen-year-old schoolgirl." O fato de o texto não ter inicialmente o objetivo de ser publicado o torna tão honesto quanto possível. E a honestidade, a sinceridade, a realidade de uma vida sem todas as censuras que a sociedade nos impõe é algo muito bonito e fascinante.
Escrevi um parágrafo sobre o diário de Anne Frank e sequer mencionei a guerra. Isso porque, na minha opinião não se trata de um livro sobre a guerra. Se trata muito mais da vida de uma adolescente. Seus sonhos, seus desejos, suas frustrações, suas dúvidas. Dúvidas que ela coloca de uma forma única. Verdadeira. Impressionante. Visceral, pelo menos pra mim. Com a peculiaridade de essa adolescência ter se dado em meio à segunda guerra mundial. A peculiaridade de ser a menina uma integrante do povo que mais sofreu naquela guerra. E a fatalidade de ela ter sido uma das vítimas daquele massacre. Mas não é também um livro sobre judeus. O texto é de uma humanidade tal que transcende qualquer dos rótulos étnico-religiosos que nós criamos para nos sentirmos melhores que aqueles que são ou acreditam em coisas só um pouco diferentes que nós. Não, o texto não é sobre o judaísmo ou sobre o anti-semitismo. A guerra é o pano de fundo. O cenário. O livro é simplesmente humano. É sobre uma criança - "We had a short circuit last night, and besides that, the guns were booming away until dawn. I still haven't got over my fear of planes and shooting, and I crawl into Father's bed nearly every night for confort. I know it sounds childish, but wait till it happens to you!" - e seu amadurecimento, apesar dos pesares. Apesar das dificuldades. Apesar de tudo, ela tinha que crescer, florescer e expressar esse amadurecimento de uma forma encantadora para todos que queiram admirá-lo.
É um livro sobre amadurecimento: "Sometimes, when I lie in bed I feel a terrible urge to touch my breasts and listen to the quiet, steady beating of my heart. Unconsciously, I had these feelings even before I came here. Once, when I was spending the night at Jacque's, I could no longer restrain my curiosity about her body [...] I asked her whether, as proof of our friendship, we could touch each other's breasts. Jacque refused. I also had a terrible desire to kiss her, which I did.". E sobre a inocência de uma adolescente nos anos 30: "A week ago, even a day ago, if you'd asked me, 'Which of your friends do you think you'd be most likely to marry?' I'd have answered 'Sally', since he makes me feel good, peaceful and safe!' But now I'd cry, 'Petel, because I love him with all my heart and all my soul. I surrender myself completely!' Except for that one thing: he can touch my face, but that's as far as it goes."
A menina é muito madura para a idade ao discutir temas complexos como feminismo, política e claro, o grande assunto de então, a guerra. Guerra que para ela e todos os envolvidos era constante causa de medo, desespero. Ainda que, no caso dela, sem perder a esperança. "I've reached the point where I hardly care whether I live or die. The world will keep on turning without me, and I can't do anything to change events anyway. I'll just let matters take their course and concentrate on studying and hope that everything will be alright at the end."
E, como todo o diário, é também uma invasão aos sentimentos mais íntimos da autora. Intimidade nos sentimentos (ou falta de) sobre a mãe - "I can't talk to her, I can't look lovingly into those cold eyes, I can't. Not ever! -If she had even one quality an understanding mother is supposed to have, gentleness or friendliness or patience or something, I'd keep trying to get close to her. But as for loving this insensitive person, this mocking creature-it's becoming more and more impossible every day!"
Passagem muito curiosa e, de certa forma, bonita: "When you are standing up, all you see from the front is hair. Between your legs there are two soft, cushiony things, also covered with hair, which press together when you are standing, so you can't see what's inside. They separate when you sit down […detalhada descrição anatômica...] The hole's so small I can barely imagine how a man could get in there, much less how a baby could come out. It's hard enough trying to get your index finger inside. That's all that is, and yet it plays such an important role!"
Encerro com uma pequena frase do fim do diário: "Maybe, Margot says, I can even go back to school in September or October.". Especialmente comovente porque sabemos que ela morreria poucos meses depois, em um campo de concentração. Ela que queria tão pura e simplesmente voltar pra escola. Se algum dos leitores do blog tiver alguma explicação racional para a guerra, favor compartilhar nos comentários.
Ou em quadrinhos na Amazon |
quarta-feira, 15 de setembro de 2010
Música Moderna
Estava lendo uma nota sobre o festival de música que acontece em São Paulo chamado "Planeta Terra". Dizia assim: "Entre as principais atrações estão Empire of the Sun, Mika, Passion Pit, Smashing Pumpkins, Pavement, Phoenix, Hot Chip, Girl Talk e Yeasayer." Fiquei de cara. "Caramba, eu só conheço o Smashing Pumpkins de toda essa galera, estou muito desatualizado", pensei. Conheço e gosto muito de Smashing Pumplins, é uma banda sensacional. Mas não conhecia absolutamente nada do resto. Aí fui no youTube ver o que eu estava perdendo, e me deparei com coisas assim:
Eu me pergunto se as pessoas realmente gostam disso. Não é possível. Ou eu estou ficando muito velho e rabugento ou tem algo errado com a música moderna. Ouvi todas as bandas citadas. A única digna de ser chamada de banda é o tal Pavement (nem sei se o Pavement é bom ou se ficou bom no contraste com as outras "bandas"). O resto é um mar de rap-techno-treva que vou te contar. Onde vamos parar? Alguém por favor me indique bandas novas que prestem, ou vou ter que seguir ouvindo o Ramones e os primeiros discos da Gal Costa pra sempre. Grato.
Eu me pergunto se as pessoas realmente gostam disso. Não é possível. Ou eu estou ficando muito velho e rabugento ou tem algo errado com a música moderna. Ouvi todas as bandas citadas. A única digna de ser chamada de banda é o tal Pavement (nem sei se o Pavement é bom ou se ficou bom no contraste com as outras "bandas"). O resto é um mar de rap-techno-treva que vou te contar. Onde vamos parar? Alguém por favor me indique bandas novas que prestem, ou vou ter que seguir ouvindo o Ramones e os primeiros discos da Gal Costa pra sempre. Grato.
Freud
"Há muito tempo filósofos e especialistas da humanidade nos dizem que erramos ao considerar nossa inteligência como uma força independente e em não levar em conta a dependência de tal inteligência da vida afetiva. Nosso intelecto pode trabalhar de maneira eficaz somente na medida em que não sofre influências afetivas muito intensas; no caso contrário, este age simplesmente como um instrumento a serviço de uma vontade e obtém o resultado que esta lhe inspira. Daí que, argumentações lógicas nada podem contra os interesses afetivos, e é por isso que, no mundo dos interesses, a argumentação baseada na razão é tão estéril. A experiência psicoanalítica comprova esta verdade. Essa tem meios para constatar a cada dia como, quando confrontados com pensamentos contrários a uma resistência afetiva, os homens mais inteligentes perdem imediatamente qualquer capacidade de compreensão e se comportam como imbecis, mas que, depois que tal resistência é vencida, a sua inteligência ressurge. Portanto, a cegueira lógica em que esta guerra colocou nossos melhores concidadãos è apenas um fenômeno secundário, a consequência de uma excitação afetiva que, espera-se, desaparecerá junto com as causas que a provocaram"
O contexto aqui é a primeira guerra mundial, que acontecia na época do texto, mas é impressionante como o parágrafo do Freud se encaixa bem em inúmeras situações, como em brigas de torcida de futebol, no partidarismo político cego agora na época das eleições ou no fanatismo religioso. A diferença é que as causas do partidarismo cego, das brigas de torcida e do fanatismo religioso, infelizmente, são mais permanentes que as daquela guerra. Sou fã do Freud, concordo com poucos caras tanto quanto eu concordo com ele.
Nota: Parágrafo extraído do texto "Considerações Atuais Sobre a Guerra e a Morte".
O contexto aqui é a primeira guerra mundial, que acontecia na época do texto, mas é impressionante como o parágrafo do Freud se encaixa bem em inúmeras situações, como em brigas de torcida de futebol, no partidarismo político cego agora na época das eleições ou no fanatismo religioso. A diferença é que as causas do partidarismo cego, das brigas de torcida e do fanatismo religioso, infelizmente, são mais permanentes que as daquela guerra. Sou fã do Freud, concordo com poucos caras tanto quanto eu concordo com ele.
Nota: Parágrafo extraído do texto "Considerações Atuais Sobre a Guerra e a Morte".
terça-feira, 7 de setembro de 2010
Imagem
Achei esta imagem muito representativa do momento vivido pelo Spot Club Internacional. Me refiro à alegria. Alegria dos jogadores pelo prazer de jogar futebol. Pelo prazer de vestir a camisa colorada, já que vão para o exterior por um tempo mas acabam voltando, em um negócio bom para todo mundo. Alegria de defender um clube vitorioso. Alegria dos torcedores que como eu amargaram os anos 90 e agora merecidamente vêem o Inter empilhar títulos. Alegria de uma direção extremamente competente e verdadeiramente colorada. Alegria pelo recente título da Libertadores. Alegria de ver o time cada vez mais próximo do líder do brasileiro. Aegria de ver o time disputar para ganhar todas as competições de que participa. Só alegria, meu time.
Para registrar, a imagem é do gol do Sobis no 2x0 contra o Prudente domingo passado. A alegria é tanta no Beira-Rio que dá pra perceber o sorriso largo até do Índio e do Kleber que estão de costas na foto (clique na foto para ampliar).
Dedico esse post à amiga e leitora colorada Carina, que reclamou justamente que eu não havia mencionado aqui no blog o título da Libertadores.
quarta-feira, 1 de setembro de 2010
quarta-feira, 25 de agosto de 2010
Brasilidade
Estudo extremamente interessante sobre nós brasileiros. Vale a pena ler. Ali no menu, abaixo dos slides dá pra colocar os slides em "full screen".
sexta-feira, 30 de julho de 2010
Livro da Vez:
Do Androids Dream of Electric Sheep?
Philip K. Dick
Bueno, mais um livro que vale a pena comentar aqui. Coloquei o título em inglês porque o título no Brasil (O Caçador de Andróides) tem mais a ver com o filme ao qual o livro deu origem do que com o livro. Pois é, esse é o livro em que foi inspirado o Blade Runner. Ao contrário do "Clube da Luta" em que o filme é bastante fiel ao livro homônimo, o Blade runner é apenas inspirado no "Do Androids Dream of Electric Sheep?". Depois que eu escrevi este texto eu me dei conta que durante todo o tempo eu assumi que o leitor viu o filme. Se você não viu o filme talvez seja complicado entender algumas coisas que eu escrevi. Mas poxa, é cultura pop. Vá ver o filme, se não viu, e volte aqui depois. O resto do texto é praticamente comparando o filme com o livro.
Sim, existem andróides nas duas obras. Sim, o protagonista é um "caçador de andróides". Mas há muitas diferenças. Os andróides do livro não são chamados de "replicantes" e não possuem força nem inteligência sobre-humanas. No filme o líder dos replicantes chega a quebrar paredes, mas no livro eles são fisicamente humanos, com a única diferença prática sendo a ausência de emoções. Alguns personagens são apresentados em contextos diferentes no livro e no filme. A andróide que no livro é cantora de ópera, no filme virou dançarina com cobras em um bar. O motorista de caminhão "retardado" do livro (se é que retardado é a tradução apropriada para "chickenhead") é engenheiro genético e tem por hobby fabricar brinquedos para uso pessoal no filme, e por aí vai. Não quero falar mais de diferenças específicas para evitar estragar as surpresas de quem não leu o livro.
Uma coisa boa foi o fato de eu praticamente não me lembrar do filme quando li o livro. Eu tinha visto há muito tempo atrás, e só fui rever agora depois de ler o livro. Isso foi bom porque me permitiu imaginar o mundo e os andróides quase sem a influência das imagens do filme. E os andróides do livro, ou os que eu imaginei, são mais humanos e menos bizarros que os do filme. Ok, eles não têm emoções. Eles não dão a mínima se um humano, animal ou andróide morre. Eles matarão um humano ou andróide sem pestanejar se sua sobrevivência depender disso. Mas eles não são violentos gratuitamente como os do filme. Os andróides do livro querem simplesmente sobreviver sem ser escravos nem mortos por nenhum blade runner (termo que também só existe no filme). Desta forma, no livro é possível questionar se seria correto o extermínio de andróides promovido pelos humanos, ao passo que no filme os andróides são tão repulsivos e assassinos que praticamente merecem morrer, com exceção da namoradinha do Harrison Ford. Aliás o protagonista do livro é casado, e o do filme não. Em suma, foi possível pra mim simpatizar com os andróides do livro, mas não com os do filme. Ainda, no livro não há qualquer sugestão de que o protagonista possa ser um andróide, ao contrário do filme em que essa parece ser a explicação mais plausível para a cena do unicórnio.
Há ainda uma série de informações sócio-culturais sobre o mundo futurista que são apenas sugeridas ou sequer mencionadas no filme envolvendo religião, comunicação de massa, drogas e a obsessão dos humanos por animais. Praticamente extintos, os animais são um símbolo de status no mundo imaginado por Dick. O protagonista tem uma "ovelha elétrica", e sonha em ter um animal de verdade, que seria muito caro. Esse é um dos motivos para ele correr atrás das recompensas por andróides. Mas essas questões eu até entendo que são difíceis de se aprofundar no cinema. Já as mudanças no papel dos personagens e na natureza dos andróides são mais para agradar ao diretor do que para adaptar a história à linguagem do cinema.
Mas como reclamar de um clássico do cinema como Blade Runner? É um grande filme, sem dúvida. Mas eu particularmente prefiro o livro. E recomendo. Leia e tre suas conclusões.
Sim, existem andróides nas duas obras. Sim, o protagonista é um "caçador de andróides". Mas há muitas diferenças. Os andróides do livro não são chamados de "replicantes" e não possuem força nem inteligência sobre-humanas. No filme o líder dos replicantes chega a quebrar paredes, mas no livro eles são fisicamente humanos, com a única diferença prática sendo a ausência de emoções. Alguns personagens são apresentados em contextos diferentes no livro e no filme. A andróide que no livro é cantora de ópera, no filme virou dançarina com cobras em um bar. O motorista de caminhão "retardado" do livro (se é que retardado é a tradução apropriada para "chickenhead") é engenheiro genético e tem por hobby fabricar brinquedos para uso pessoal no filme, e por aí vai. Não quero falar mais de diferenças específicas para evitar estragar as surpresas de quem não leu o livro.
Uma coisa boa foi o fato de eu praticamente não me lembrar do filme quando li o livro. Eu tinha visto há muito tempo atrás, e só fui rever agora depois de ler o livro. Isso foi bom porque me permitiu imaginar o mundo e os andróides quase sem a influência das imagens do filme. E os andróides do livro, ou os que eu imaginei, são mais humanos e menos bizarros que os do filme. Ok, eles não têm emoções. Eles não dão a mínima se um humano, animal ou andróide morre. Eles matarão um humano ou andróide sem pestanejar se sua sobrevivência depender disso. Mas eles não são violentos gratuitamente como os do filme. Os andróides do livro querem simplesmente sobreviver sem ser escravos nem mortos por nenhum blade runner (termo que também só existe no filme). Desta forma, no livro é possível questionar se seria correto o extermínio de andróides promovido pelos humanos, ao passo que no filme os andróides são tão repulsivos e assassinos que praticamente merecem morrer, com exceção da namoradinha do Harrison Ford. Aliás o protagonista do livro é casado, e o do filme não. Em suma, foi possível pra mim simpatizar com os andróides do livro, mas não com os do filme. Ainda, no livro não há qualquer sugestão de que o protagonista possa ser um andróide, ao contrário do filme em que essa parece ser a explicação mais plausível para a cena do unicórnio.
Há ainda uma série de informações sócio-culturais sobre o mundo futurista que são apenas sugeridas ou sequer mencionadas no filme envolvendo religião, comunicação de massa, drogas e a obsessão dos humanos por animais. Praticamente extintos, os animais são um símbolo de status no mundo imaginado por Dick. O protagonista tem uma "ovelha elétrica", e sonha em ter um animal de verdade, que seria muito caro. Esse é um dos motivos para ele correr atrás das recompensas por andróides. Mas essas questões eu até entendo que são difíceis de se aprofundar no cinema. Já as mudanças no papel dos personagens e na natureza dos andróides são mais para agradar ao diretor do que para adaptar a história à linguagem do cinema.
Mas como reclamar de um clássico do cinema como Blade Runner? É um grande filme, sem dúvida. Mas eu particularmente prefiro o livro. E recomendo. Leia e tre suas conclusões.
Ou na Amazon |
sexta-feira, 23 de julho de 2010
Vou Ser Tio!
Tem uma pá de blogs que eu leio e recomendo alí no sidebar, mas tem um novo que me deixou tão feliz que eu preciso recomendar especialmente aqui para os leitores: anoticiadoano.blogspot.com. Vou ser tio! Parabéns maninha!!!
terça-feira, 29 de junho de 2010
América do Sul Dominando a Copa!
O Paraguai acabou de se classificar para as quartas de final. É a quarta seleção da América do Sul a se classificar. Pela primeira vez na história serão mais seleções sul americanas do que europeias nas quartas. O único sul americano que ficou de fora foi o Chile, eliminado por outro sul americano, o Brasil. Existe a possibilidade de termos semifinais com Brasil x Uruguai e Argentina x Paraguai, algo que seria extraordinário. É bom lembrar que nunca na história uma seleção europeia foi campeã fora da Europa.
sexta-feira, 11 de junho de 2010
quarta-feira, 9 de junho de 2010
segunda-feira, 24 de maio de 2010
Vontade
Vontade de fazer tudo
Vontade de não fazer nada
Vontade de trabalhar duro
Vontade de dar risada
Vontade de sair
Vontade de ficar
Vontade de dormir
Vontade de acordar
Vontade de escrever
Vontade de apagar
Vontade de esquecer
Vontade de abraçar
Vontade de desistir
Vontade de recomeçar
Vontade de insistir
Vontade de terminar
Vontade de não fazer nada
Vontade de trabalhar duro
Vontade de dar risada
Vontade de sair
Vontade de ficar
Vontade de dormir
Vontade de acordar
Vontade de escrever
Vontade de apagar
Vontade de esquecer
Vontade de abraçar
Vontade de desistir
Vontade de recomeçar
Vontade de insistir
Vontade de terminar
sexta-feira, 21 de maio de 2010
segunda-feira, 26 de abril de 2010
Space Invader
Quem consegue encontrar o "Space Invader" nessa foto? Bueno, quem sabe o que é um space invader deve ter encontrado. O legal desse artista nem é o space invader em si, que é bem simplesinho. O legal é que o artista francês viaja pelo mundo todo colocando esses space invaders em lugares inusitados. Dizem por exemplo que encontrando todos os que estão distribuídos em Paris e marcando-os em um mapa da cidade, aparece o desenho de um space invader no mapa. Mais ou menos como aquelas revistinhas de criança "ligue os pontos". Pra completar, existem fâs do cara que tentam encontrar o maior número de space invaders possível pelo mundo afora. Parece que existe um sistema de pontuação que atribui valores aos aliens de acordo com a dificuldade de se enontrá-los. Em resumo, esse post é só pra dizer que "tem louco pra tudo"!
domingo, 4 de abril de 2010
quinta-feira, 1 de abril de 2010
sábado, 27 de março de 2010
Berlim Cultural
Berlim não se resume a sua história única. Berlim tem também muita arte e cultura. Quando eu cheguei na cidade, quando desci na estação de metrô perto do albergue onde ficaríamos, um adesivo dos Ramones na parede já me chamou a atenção. Pensei e na hora falei aos companheiros de viagem: "Opa, estamos no lugar certo!". A cidade, ou pelo menos algumas partes dela, incluindo a área onde ficamos, têm um ambiente muito alternativo. Punk mesmo, no sentido de criatividade, liberdade, diversão. Muita arte de rua. Muito grafite de qualidade (não confundir com pichação e vandalismo). Lá o grafite é levado a sério. Eu vi desde loja de bicicleta até supermercado com a faixada toda decorada por grafite. Não é vandalismo, é trabalho profissional e, na minha opinião, muito bonito. Muito interessante. E tem muito bar alternativo. Lugares com todo o tipo de música. Do punk rock à música eletrônica. Música eletrônica que eu a princípio não gosto, mas que se estando no ambiente certo, com os malucos certos e com o DJ certo pode sim ser interessante. Um lugar que recomendo para isso, por exemplo, é a Cassiopeia. Trata-se de um depósito de trens bombardeado e abandonado durante a guerra que, anos depois, virou night club, skate park e, dizem, que cinema ao ar livre no verão. Infelizmente estive lá no inverno. O lugar é altamente recomendável. Diversão e cultura (ou "contra-cultura") garantidas.
Comecei o post falando em Ramones, a cidade conta com um pequeno museu da banda. Tem bastante memorabilia, coisas como tênis, jaquetas, guitarras, baquetas usadas pelos caras. Desenhos e letras escritas a mão pelo Dee Dee e outras raridades desse tipo. O lugar é bacana, e serve um café muito bom. Para quem é fã vale a pena. Para quem não é, nem tanto.
Nos próximos posts eu vou fazer mais ou menos como fiz com Florença a um tempo atrás. Sobre Florença eu postei algumas obras de arte clássicas daquela bela cidade. Sobre Berlim, vou postar algumas obras de arte de rua que gostei. O crédito de algumas das fotos, como essa deste post, vai para meu colega Neumar Malheiros, que esteve lá comigo e tinha um celular com uma camera boa para as ocasiões em que as cameras "normais" não eram apropriadas.
terça-feira, 16 de fevereiro de 2010
Berlim Histórica
Bueno, vamos falar de Berlim então. Eu fiz um city tour muito legal sobre o terceiro reich, onde se pode aprender muitas coisas interessantes. Em uma tarde é possível entender como o Hitler conseguiu o poder absoluto na Alemanha sem quebrar as leis da época, por exemplo. Acontece que houve um incêndio criminoso no parlamento (Reichstag). Não se sabe com certeza até hoje quem seriam os responsáveis. Há quem diga que foram os próprios nazistas, já que aquele prédio simbolizava a democracia, da qual eles não eram muito fãs. Mas o Hitler, chanceler na época, colocou a culpa nos Comunistas, e solicitou e aprovou em medida emergencial o poder de fazer o que quisesse por um tempo limitado, 30 dias ou algo do gênero. Nesses 30 dias ele simplesmente mandou prender todos os parlamentares da oposição e depois disso, votou "democraticamente" no parlamento para ser nomeado führer, com poder absoluto, e aí deu no que deu. Há um memorial perto do Reichstag para lembrar dos políticos que foram presos na época e que foram mortos pouco antes do fim da guerra, quando a derrota era iminente.
Aliás memoriais não faltam pela cidade. O memorial das vítimas do holocausto, por exemplo. Impossível ficar indiferente ao holocausto. Provavelmente a maior demonstração de brutalidade da história da humanidade. Houveram outras tentativas de genocídio na história e ainda hoje, mas nunca de forma tão fria e sistemática. Uma verdadeira indústria da morte. O memorial do holocausto não tem nenhuma explicação. Diz que cada pessoa deve interpretá-lo como preferir. Caminhar por ali e sentir a claustrofobia que o local inspira. Foi construído bem no centro da cidade. Próximo ao portão de Brandenburgo e do Reichstag, procurando fazer com que a cidade e a Alemanha nunca esqueçam o horror que aconteceu e que tal barbaridade nunca venha a se repetir. O Holocausto e a segunda guerra são tão fascinantes que não importa quantos livros e filmes se façam a respeito, o assunto parece nunca se esgotar. Impressionante. E triste.
Em vários lugares se encontram pedras ligeiramente elevadas na calçada com dizeres do tipo "Nesta casa morou fulana de tal, deportada para Auschvitz no dia tal, onde foi morta na data x." A idéia seria que de tanto em tanto os cidadãos, em meio a suas vidas felizes e atarefadas na Berlim moderna, "tropecem" nessas pedras e se lembrem do que aconteceu. Claro que isso é simbólico, as pedras não são suficientemente elevadas para que alguém de fato tropece e se esborrache no chão, mas estão ali. Eu vi e li.
Outro memorial interessante encontra-se em uma praça onde se costumavam queimar livros que o regime nazista considerava inconvenientes. O memorial é uma série de estantes de livros vazias, onde deveriam estar as obras queimadas. Importantes autores alemães estavam entre os autores de obras "inconvenientes", como Albert Einstein e Sigmund Freud, por exemplo.
Tem, ainda, um memorial do soldado soviético desconhecido. Me conta o guia do tour que alguns alemães chamam o memorial de "memorial do estuprador desconhecido", pois afirmam que os Russos depois de conseguirem finalmente conquistar Berlim praticaram esse ato deplorável com muitas mulheres por lá. Afirma ainda o mesmo guia que as estatísticas de abortos feitos na época confirmam essa ideia (não, não está errado, com a reforma ortográfica "ideia" não tem mais acento). O interessante é que o memorial encontra-se no lado ocidental da cidade. No setor britânico. Motivo: Os russos foram os primeiros aliados a chegar lá. E quiseram deixar isso claro construindo antes que os demais aliados chegassem o tal memorial no território que seria deles. E porque o memorial não foi destruído pelos britânicos? Segundo o guia, ele mesmo britânico, "o memorial não foi destruído porque nem os britânicos seriam tão doentios a ponto de violar sepulturas das centenas ou milhares de soldados que estão sepultados ali. Aprendi que morreram muito mais soldados soviéticos ali do que seria necessário. Aprendi que Stalin decidiu que a União Soviética deveria ser a primeira a chegar a Berlim. Mais, deveria conquistar a cidade no dia primeiro de maio, data bacana dos trabalhadores e tal. E decidiu que queria isso independente de quantas vidas soviéticas isso custasse. A célebre foto que ilustra esse post, do soldado colocando a bandeira da URSS no topo do Reichstag no dia primeiro de maio, como queria Stalin, teria custado muitas vidas de soldados que entravam pela porta da frente, no hall só para serem alvejados pelos soldados alemães em pontos altos do interior do prédio. Me disse o guia que esse soldado que está colocando a bandeira teve que passar literalmente por cima de uma montanha de soldados russos mortos no hall de entrada para chegar lá em cima e finalmente tirar essa foto que enaltece a URSS. O mais correto, estrategicamente, seria manter o Reichstag cercado, como já estava, por algumas semanas ou meses até que os alemães se rendessem por falta de suprimentos, por exemplo. Mas isso só aconteceria bem depois de primeiro de maio de 1945 e da chegada das tropas aliadas ocidentais, algo inadmissível para nosso amigo Stalin.
Dados todos esses memoriais, eu percebo que realmente há um esforço no sentido de não esquecer mesmo o que aconteceu por parte da cidade. Esse esforço é louvável. Não recupera nem uma das vidas perdidas sequer, mas ainda assim louvável. Muito bonito.
Depois da guerra, Berlim continuou sendo um lugar único em termos históricos. Com a debandada de pessoas do mundo socialista para o capitalista através de Berlim logo depois da guerra e da instalação da "cortina de ferro", os soviéticos resolveram construir o famoso muro. Passa-se então a existência de dois modos de ver o mundo em uma mesma cidade dividida por um muro. Visitei o museu da DDR (Alemanha Oriental) que mostra o cotidiano do pessoal do lado comunista. Inclusive com um carro Trabant, o único carro que se podia comprar na DDR, e ainda assim depois de esperar anos na fila. Dizem que tinha gente que tinha filho recém nascido e já reservava um carro pra o guri receber quando crescesse.
Há ainda casos célebres de tentativas de fuga do lado oriental para o ocidental, como o de um casal de namorados. Eles namoravam já antes da construção do muro. Mas com o muro, ficou um de cada lado. A moça no lado oriental e o rapaz na parte oeste. Nosso herói teve uma ideia (de novo sem acento) brilhante. Começou a namorar uma outra guria, essa habitante da Berlim ocidental como ele, muito parecida com sua antiga namorada. Depois de um tempo de namoro, convenceu a nova namorada a passar um agradável fim de semana fazendo turismo no lado oriental. Chegando lá, roubou os documentos da moça e foi encontrar a antiga namorada, com quem fugiu para o lado ocidental usando os documentos. Parece que a história é verídica, mas o cara e a sua amada acabaram presos. Parece que a vítima do golpe, por azar dos golpistas, era parente de algum figurão do governo que deu um jeito de cuidar muito bem do caso.
Bueno, esse post longo todo pra dizer que Berlim é um lugar com uma história muito rica. Recomendo muito pra quem gosta de história uma visita e este city tour que eu fiz. Muito bacana mesmo. No próximo post eu falo mais sobre outros aspectos da cidade. Acho que deu pra perceber que eu curti bastante Berlim. Até a próxima!
Aliás memoriais não faltam pela cidade. O memorial das vítimas do holocausto, por exemplo. Impossível ficar indiferente ao holocausto. Provavelmente a maior demonstração de brutalidade da história da humanidade. Houveram outras tentativas de genocídio na história e ainda hoje, mas nunca de forma tão fria e sistemática. Uma verdadeira indústria da morte. O memorial do holocausto não tem nenhuma explicação. Diz que cada pessoa deve interpretá-lo como preferir. Caminhar por ali e sentir a claustrofobia que o local inspira. Foi construído bem no centro da cidade. Próximo ao portão de Brandenburgo e do Reichstag, procurando fazer com que a cidade e a Alemanha nunca esqueçam o horror que aconteceu e que tal barbaridade nunca venha a se repetir. O Holocausto e a segunda guerra são tão fascinantes que não importa quantos livros e filmes se façam a respeito, o assunto parece nunca se esgotar. Impressionante. E triste.
Em vários lugares se encontram pedras ligeiramente elevadas na calçada com dizeres do tipo "Nesta casa morou fulana de tal, deportada para Auschvitz no dia tal, onde foi morta na data x." A idéia seria que de tanto em tanto os cidadãos, em meio a suas vidas felizes e atarefadas na Berlim moderna, "tropecem" nessas pedras e se lembrem do que aconteceu. Claro que isso é simbólico, as pedras não são suficientemente elevadas para que alguém de fato tropece e se esborrache no chão, mas estão ali. Eu vi e li.
Outro memorial interessante encontra-se em uma praça onde se costumavam queimar livros que o regime nazista considerava inconvenientes. O memorial é uma série de estantes de livros vazias, onde deveriam estar as obras queimadas. Importantes autores alemães estavam entre os autores de obras "inconvenientes", como Albert Einstein e Sigmund Freud, por exemplo.
Tem, ainda, um memorial do soldado soviético desconhecido. Me conta o guia do tour que alguns alemães chamam o memorial de "memorial do estuprador desconhecido", pois afirmam que os Russos depois de conseguirem finalmente conquistar Berlim praticaram esse ato deplorável com muitas mulheres por lá. Afirma ainda o mesmo guia que as estatísticas de abortos feitos na época confirmam essa ideia (não, não está errado, com a reforma ortográfica "ideia" não tem mais acento). O interessante é que o memorial encontra-se no lado ocidental da cidade. No setor britânico. Motivo: Os russos foram os primeiros aliados a chegar lá. E quiseram deixar isso claro construindo antes que os demais aliados chegassem o tal memorial no território que seria deles. E porque o memorial não foi destruído pelos britânicos? Segundo o guia, ele mesmo britânico, "o memorial não foi destruído porque nem os britânicos seriam tão doentios a ponto de violar sepulturas das centenas ou milhares de soldados que estão sepultados ali. Aprendi que morreram muito mais soldados soviéticos ali do que seria necessário. Aprendi que Stalin decidiu que a União Soviética deveria ser a primeira a chegar a Berlim. Mais, deveria conquistar a cidade no dia primeiro de maio, data bacana dos trabalhadores e tal. E decidiu que queria isso independente de quantas vidas soviéticas isso custasse. A célebre foto que ilustra esse post, do soldado colocando a bandeira da URSS no topo do Reichstag no dia primeiro de maio, como queria Stalin, teria custado muitas vidas de soldados que entravam pela porta da frente, no hall só para serem alvejados pelos soldados alemães em pontos altos do interior do prédio. Me disse o guia que esse soldado que está colocando a bandeira teve que passar literalmente por cima de uma montanha de soldados russos mortos no hall de entrada para chegar lá em cima e finalmente tirar essa foto que enaltece a URSS. O mais correto, estrategicamente, seria manter o Reichstag cercado, como já estava, por algumas semanas ou meses até que os alemães se rendessem por falta de suprimentos, por exemplo. Mas isso só aconteceria bem depois de primeiro de maio de 1945 e da chegada das tropas aliadas ocidentais, algo inadmissível para nosso amigo Stalin.
Dados todos esses memoriais, eu percebo que realmente há um esforço no sentido de não esquecer mesmo o que aconteceu por parte da cidade. Esse esforço é louvável. Não recupera nem uma das vidas perdidas sequer, mas ainda assim louvável. Muito bonito.
Depois da guerra, Berlim continuou sendo um lugar único em termos históricos. Com a debandada de pessoas do mundo socialista para o capitalista através de Berlim logo depois da guerra e da instalação da "cortina de ferro", os soviéticos resolveram construir o famoso muro. Passa-se então a existência de dois modos de ver o mundo em uma mesma cidade dividida por um muro. Visitei o museu da DDR (Alemanha Oriental) que mostra o cotidiano do pessoal do lado comunista. Inclusive com um carro Trabant, o único carro que se podia comprar na DDR, e ainda assim depois de esperar anos na fila. Dizem que tinha gente que tinha filho recém nascido e já reservava um carro pra o guri receber quando crescesse.
Há ainda casos célebres de tentativas de fuga do lado oriental para o ocidental, como o de um casal de namorados. Eles namoravam já antes da construção do muro. Mas com o muro, ficou um de cada lado. A moça no lado oriental e o rapaz na parte oeste. Nosso herói teve uma ideia (de novo sem acento) brilhante. Começou a namorar uma outra guria, essa habitante da Berlim ocidental como ele, muito parecida com sua antiga namorada. Depois de um tempo de namoro, convenceu a nova namorada a passar um agradável fim de semana fazendo turismo no lado oriental. Chegando lá, roubou os documentos da moça e foi encontrar a antiga namorada, com quem fugiu para o lado ocidental usando os documentos. Parece que a história é verídica, mas o cara e a sua amada acabaram presos. Parece que a vítima do golpe, por azar dos golpistas, era parente de algum figurão do governo que deu um jeito de cuidar muito bem do caso.
Bueno, esse post longo todo pra dizer que Berlim é um lugar com uma história muito rica. Recomendo muito pra quem gosta de história uma visita e este city tour que eu fiz. Muito bacana mesmo. No próximo post eu falo mais sobre outros aspectos da cidade. Acho que deu pra perceber que eu curti bastante Berlim. Até a próxima!
Berlim
Passei o ano novo na capital da Alemanha. Uma grata surpresa. Toda a grande cidade tem uma região ou bairro mais underground, alternativo. Mas no caso de Berlim, o alternativo parece ser a regra. Uma cidade muito viva. Muito cultural. Muita arte de rua. Música punk, bares góticos e alternativos. Além disso, em Berlim tem muita história. Nazismo, segunda guerra, comunismo, o muro, o socialismo... Cada um desses itens daria um ou mais livros de história. Muito interessante estar em um lugar onde aconteceu tanta coisa. Nos próximos dois posts vou falar um pouco sobre Berlim. Primeiro sobre a parte histórica, e depois sobre algumas atrações da cidade em si. Aguarde e confie. Ah, a foto é do portão de Bradenburgo. Cartão postal da cidade.
quinta-feira, 21 de janeiro de 2010
Impressionante
Trento deve ser o único lugar do mundo em que a residência estudantil tem um bar com mesas de ping pong e pebolim, jogos de tabuleiro, cerveja, refrigerante e sanduíches com bons preços e que fica fechado aos sábados e domingos a tarde/noite. É impressionante.
Me desculpo com os leitores pela longa inatividade do blog (esse post curtinho nem conta). Ando sem tempo pra blogar. Espero ter logo Internet em casa de novo e aí vou postar algo mais decente.
Me desculpo com os leitores pela longa inatividade do blog (esse post curtinho nem conta). Ando sem tempo pra blogar. Espero ter logo Internet em casa de novo e aí vou postar algo mais decente.
Assinar:
Postagens (Atom)