Este livro é a continuação de "Trainspotting", do mesmo autor. Quem não conhece precisa ver o filme homonimo e/ou ler o livro. Bom, Trainspotting conta a história de um bando de "liquidados", viciados em heroina no Leith, um bairro da cidade escocesa de Edimburgo, cidade do autor dos livros. Tanto o livro como o filme Trainspotting são um tanto perturbadores e não-convencionais, o que torna-os interessantes. Uma cena interessante do filme mostra uma personagem totalmente sedada falando que "heroina é 10000 vezes melhor que um orgasmo". Essa citação pode dar uma certa curiosidade, mas o resto do filme/livro com certeza convencerão o espectador/leitor que não é uma boa idéia experimentar a droga. Se não lestes/vistes Trainspotting talvez seja bom não ler sobre o Pornô (próximos parágrafos), pois podes encontrar "spoilers" sobre o final do Trainspotting.
Mas esse post é sobre o "Pornô", que se passa 10 anos depois que o Renton fugiu com a grana dos outros malucos do Leith. Renton agora mora em Amsterdam, onde abriu uma boate e encontrou um certo sucesso profissional, embora sua vida amorosa continue não lá essas coisas. Os outros personagens do Trainspotting ainda não se deram bem na vida, o que não é nenhuma surpresa dada a situação dos malucos. A história se desenvolve durante a tentativa do "Sick Boy" de produzir um filme pornô, já que este ramo do entretenimento é extremamente lucrativo. Nesta empreitada o Sick Boy acaba reencontrando os personagens de Trainspotting e uma nova personagem aparece, a sexy estudante de cinema Nikki. O livro é narrado sempre em primeira pessoa, com o Sick Boy, o Renton, o Spud, a Nikki e o Frank Begbie, que está para sair da cadeia, se alternando na narração. Sick Boy, Renton e Nikki narram em inglês "normal" na versão original enquanto Begbie e Spud contam suas aventuras em "escocês". Na versão brasileira o "escocês" é traduzido para um português coloquial ao extremo e sem meias-palavras, como pode-se notar no trecho que reproduzo no fim do post.
Frank Begbie é talvez o personagem mais psicótico que eu já li. O cara é um verdadeiro marginal e ainda por cima perturbado pela neurose causada pela cocaína. É muito legal ler os capítulos em que ele é o narrador. O cara descrevendo as coisas na sua logica distorcida de psicopata como se o seu modo de ver o mundo fosse a coisa mais natural do mundo. E nesse segundo livro ele está muito mais alucinado que no Trainspotting. Evidentemente ele ainda não esqueceu que o Renton fugiu com a grana dela dez anos atrás. Diversão garantida, com exceção talvez dos que têm algum problema com violência. Aliás, quem tem algum problema moral com drogas, sexo e/ou violência não leia o livro, pois o texto é extremamente cru no que tange a esses temas. Não usa meias palavras.
Não leia o trecho a seguir se tem algum problema com violência.
Trecho: Frank Begbie chega na casa da ex-mulher bem depois de receber um telefonema dela dizendo que seus filhos Sean e Michael haviam brigado e que havia muito sangue...
"Depois de tomar uns copo eu vou até lá e vejo a June no pé da escada, discutindo com alguma vaca que dá meia-volta e se manda pra casa assim que me vê chegando. -Onde cê tava? Tô esperando um táxi! - ela diz.
- Tratando duns negócio - digo, olhando pro Michael. O viadinho tá segurando um trapo no queixo. Tá todo coberto de sangue.
Olho pro Sean e caminho na direção dele, que vai recuando e se encolhendo de medo. - Que porra cê andou fazendo?
Ela mete a bunda gorda no meio. - Poderia ter cortado o pescoço dele. Podia ter aberto uma veia, porra!
- Mas que caralho aconteceu aqui afinal?
Os olho dela quase saltam pra fora do melão, como se ela tivesse tomado alguma droga. - Ele pegou um pedaço de arame e amarrou bem esticado de lado a lado na porta, bem na altura do pescoço do Michael. Aí gritou pra chamar o moleque, dizendo que tava passando ET na televisão, aquela propaganda de telefone em que o garoto defende um pênalti do Hibs contra o Hearts, sabe? Aí o Michael veio correndo todo animado. Sorte que o outro não tinha medido direito e o arame acabou não pegando na altura do pescoço. Se tivesse, podia ter arrancado a cabeça dele fora!
Mas aí eu fico pensando que isso foi até bem massa, porque no meu modo de ver isso mostra uma certa iniciativa. Eu e o Joe vivia fazendo essse tipo de coisa um com o outro, quando a gente era pequeno. Pelo menos mostra que ele tem o espírito de fazer umas coisa prática em vez de ficar o tempo todo sentado jogando aquelas porra de videogame que nem uns moleque faz hoje em dia. Olho pro Sean.
- Tirei isso do Esqueceram de Mim 2 - ele diz.
Aí só dou uma olhada pra June, essa vadia abobalhada de merda, com minhas mãos no quadril. - Então a porra da culpa é sua - digo pra ela - deixando ele assistir essas porra de filme.
- Porra, como assim é minha...
- Mostrando esses filme de merda que ficam botando idéia violenta na cabeça dos moleque - interrompo a vadia, mas não vou discutir com ela, não aqui bem no meio da rua, porra. Porque se eu fizer isso ela vai acabar levando umas porrada e foi bem isso que estragou nossa relação, a vaca desgraçada ficava me provocando até que eu era obrigado a amassar a cara dela."
[...]
No táxi:
"O fiadaputinha continua segurando o trapo no queixo. [...] -Ele pega muito no seu pé?-pergunto.
- Sim - diz o Michael, e os olho dele tão brilhoso como os de uma menininha.
Esse viadinho tá precisando ouvir algumas palavras de sabedoria e precisa ouvir isso agora mesmo, senão a vida dele vai ser um inferno quando ele crescer. Não tem merda mais certa que essa. [...] - Olha só, não começa a chorar por causa disso, Michael. Eu era mais novo que o seu tio Joe e também levei muita porrada. Cê precisa aprender a se defender. É só arranjar uma porra dum taco de beisebol e dar uma bordoada bem no melão daquele fiadaputa, espera tipo até ele dormir. Isso vai dar um jeito nele. Funcionou com o Joe, só que no meu caso eu fui lá e quebrei um tijolo no melão dele. Ele pode ser mais forte que você, mas não mais forte que meio tijolo estourado no melão dele."
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