Aviso incluido depois de escrever o post: Esse post ficou extremamente longo, e possivelmente chato para alguns de vocês. Se este for o caso não leiam, vão direto para as fotos que são bonitinhas ;). Eu acho legal história e um pouco de cultura geral e por isso me prestei a escrever as linhas a seguir. Se te interessar, boa leitura. Só não reclames que o texto é longo e/ou chato pois eu já incluí esse aviso no início.
Buenas, chegou a hora de falar um pouco sobre Trento, minha nova cidade. Hoje eu fui fazer um tour pelo centro histórico da cidade. Interessante estar num lugar mais antigo do que o "descobrimento" do Brasil. A cidade foi conquistada pelos Romanos no final do século I. Na época do império Romano, o lugar servia como passagem e descanso de soldados que iam de Roma para o norte da Europa. O nome original da cidade era Tridentum. Em homenagem ao Netuno. Sim, aquele Netuno que é o Deus dos Oceanos. O que a cidade tem a ver com o Oceano? Nada, já que a cidade encontra-se nas montanhas, na região alpina da Itália. Acontece que muitos anos atrás o rio Adige, que corta a cidade passava literalmente por dentro da cidade. Trento então era como Veneza, com canais nas ruas e partes da cidade só acessíveis de barco ou gondola. Daí a associação com Netuno.
Depois da queda do império Romano a cidade trocou de mãos algumas vezes, mas acabou ficando com o "Sacro Império Romano-Germânico", o qual até hoje eu não sabia que existia, mas era como uma "confederação" de regiões católicas que ocupava grande parte do que hoje é a Alemanha, Austria, Belgica, Holanda e essa parte aqui da Itália. Um pouco mais ao norte de onde eu estou, no chamado Alto Adige até hoje a lingua preferida do povo é o Alemão. Inclusive um colega meu, Italiano do Alto-Adige na Universidade, perguntado sobre recomendações de música italiana respondeu não saber, pois ele "é" alemão. Esse Império instituiu aqui em 1027 o governo de principes-bispos, ou seja, o lugar era um "principado episcopal". Um príncipe-bispo era um cara que concentrava o poder político e da Igreja, e na época isso era o maior poder que um cara poderia ter. Ou seja, absolutismo total. A guia do city tour parece que até hoje guarda uma certa mágoa desses caras, pois como todos os soberanos os caras exploravam o povo. Ela disse que havia impostos sobre as moscas na cidade, sobre poeira levantada por cavalos e outras sandices. E claro, qualquer um que falasse contra o "principe vescovo" seria morto sem muita cerimonia. Tal adoração do povo pelos soberanos culminou na construção do Castelo Buonconsiglio. Uma verdadeira fortaleza que servia como moradia dos soberanos para protegê-los de cidadãos mais revoltados. E deu certo. Apesar do povo não aturar o sistema de governo e terem ocorridas inumeras revoltas, o sistema de principado-episcopal durou até 1801, quando Napoleão chegou e dominou praticamente a Europa toda. Depois da "bagunça" napoleonica, a região ficou com a Áustria, mas depois da primeira guerra mundial foi conquistada pela Itália. Eu acho interessante como para nós olhando aí do Brasil (ou pelo menos eu via assim), os países europeus parecem ser reinos que já existiam há muitos séculos, quando isso não é verdade. O Brasil ("independente" de Portugal em 1822), se contarmos a época do Império é mais antigo como país do que países como a Itália (unificada em 1861) e a Alemanha (unificada em 1871) atuais. Paises como a França, a Inglaterra, Portugal e Espanha, me corrijam se estiver errado, são mais antigos e talvez por isso tenham colonizado meio mundo.
É, como podem ver esse city tour cheio de informações históricas me deixou empolgado com questões históricas. Eu não sei o que acontece, mas aqui assuntos como esse me parecem muito mais interessantes do que em toda a minha vida no Brasil. Acho que aqui as pessoas levam mais a sério sua história e tradições. Eu realmente gostaria que minhas meninas estudassem uns anos aqui, e se tudo der certo estudarão, pra terem uma experiencia assim. Por exemplo, esses dias (e mesmo ano passado, ainda em Lugano) andei vendo a versão italiana do "Show do Milhão". No programa aqui se fazem perguntas bastante difíceis sobre história, arte, filosofia, mitologia entre outros. E seja qual for desses assuntos que esteja em pauta, o participante geralmente desenvolve um raciocínio aprofundado sobre o tema até concluir uma resposta. Mesmo que a pessoa não saiba a resposta, começa a "pensar alto" coisas como: "hmm, nessa época o imperador era fulano de tal, então tal resposta não pode ser pois só foi instituida por fulano III, bla bla bla." Muitas vezes a pessoa erra, pois as perguntas são dificeis. Mas só o raciocinio dos caras já é interessante. No show do milhão brasileiro eu vi uma mulher pedir ajuda aos universitários para responder se o telefone 190 era da Polícia Militar ou do disque-pizza. Os universitários "achavam" que era da Polícia Militar.
Uma última nota histórica sobre Trento. Aqui rolou entre 1545 e 1563 o famoso "Conselho de Trento". Uma reunião da Igreja Católica de toda a Europa para se defender das acusações de corrupção da Igreja por parte de Luthero. Segundo me conta a nossa guia turistica, antes desse conselho, ser Padre era a várzea total. Não precisava ter estudo nenhum, nem precisava ficar na paróquia. Os caras viviam basicamente na esbórnia. Depois do conselho passou a ser necessário estudar para ser Padre e a Igreja implantou uma série de regras para que os sacerdotes levassem sua profissão mais a sério. Não que atualmente eles trabalhem muito, mas aí já é minha opinião.
Bom, apesar de toda a história milenar, Trento é uma cidade pequena. Tranquila até demais às vezes. Boate por exemplo não tem na cidade, pois o povo ainda é muito Católico. Esses dias eu e uns colegas de Lugano conhecemos um Garçom aqui em Trento que, vejam só, havia trabalhado muitos anos em Lugano. O Garçom, já um senhor de certa idade não entendia como uma cidade universitária como Trento não tinha "lugares para os jovens se divertirem". O garçom realmente não entendia isso e concluiu: "assim são os trentinos, fazer o que...". O horário italiano também é interessante. O comércio em geral, incluindo alguns supermercados, é das 8:30 da manhã ao meio-dia, e depois das 15:30 às 19:30. Sim, das 15:30! Dá tempo do pessoal curtir uma bela sestia, apesar de aqui não ser a Espanha. Já comentei com Europeus sobre isso e como no Brasil e nas Americas em geral isso é diferente. A resposta padrão: "aqui valorizamos a qualidade de vida, trabalhamos para viver e não vivemos para trabalhar". Como sou cliente e não funcionário de supermercado tendo a discordar, mas se instituissem esse horário também para os estudantes de Doutorado talvez eu até mudasse de idéia. Ah, esqueci de falar. Segunda-feira de manhã também não tem expediente no comércio.
A seguir algumas fotos de Trento. Espero que gostem.
Começo mostrando, acima, minha nova casa. Moro neste prédio, perto do Instituto onde trabalho e há uma meia hora de ônibus do centro de Trento e de todas as outras fotos desse post. Posso dizer que moro "nas montanhas".
Esta é a "Piazza Duomo", local central de Trento, com a estátua de Netuno na fonte ao centro. Ao fundo, a primeira residência dos príncipes-bispos, antes de se mudarem para o castelo mais protegido. Na torre ficavam presos os inadimplentes. Embaixo da árvore eram vendidos os bens dos presos, venda esta que eles podiam assistir do cárcere. Uma espécie de tortura psicológica.
Outra vista da fonte na Piazza Duomo, a noite e com a Catedral ao fundo. A fonte é de 1768. Bem mais recente do que a crença em Netuno, mas já bem antiga.
Aqui a Catedral. Os guarda-sois são bares e/ou restaurantes bem agradáveis. Esta foto e a foto da fonte a noite foram tiradas no verão daqui, antes da minha última ida ao Brasil.
Conta nossa guia turistica que por volta de 1500 rolou uma guerra do nosso "principado episcopal" contra a então república de Veneza para definir onde ficaria a fronteira. A versão dos trentinos é que a fronteira ficou onde o príncipe-bispo queria, e os venezianos foram derrotados, com seu lider militar tendo sido morto. Mas os trentinos tinham respeito por tal lider veneziano, que era também ligado a Igreja de alguma forma, e colocaram essa escultura dele dentro da Catedral de Trento, com a bandeira e o Simbolo de veneza de cabeça para baixo, uma vez que ele foi derrotado.
Detalhe de um vitral da Catedral. Representa a "roda da fortuna". Ao centro, uma mulher (a fortuna) gira a roda. Em volta da roda, no topo um cara com uma vida de rei, e ao longo da roda figuras em diferentes situações com um bonequinho totalmente liquidado na parte de baixo da roda. Moral, podes estar numa boa hoje e "fumado" amanhã, ou vice versa. Interessante que em uma igreja, que deveria pregar que Deus decide tudo, o "acaso" é evidenciado desta forma. Algumas pessoas dizem que "nada acontece por acaso". Eu por minha vez acho que MUITAS coisas acontecem sim, por acaso.
Monumento a Dante Alighieri, o cara que escreveu "A Divina Comédia" que eu ainda vou ler um dia. Ah, nas horas vagas ele também inventou o idioma italiano. Grande poeta esse cara.
Aqui o Castelo Buonconsiglio, onde os Principes-Bispos passaram a morar para se proteger do próprio povo.
Ufa, acho que chega de "blogar" por hoje. Abraço pra ti que leu isso tudo até aqui!
SC Internacional, Ramones e Cerveja. Isso tudo existe e ainda tem quem reclame da vida.
sábado, 25 de novembro de 2006
sexta-feira, 17 de novembro de 2006
Heavy Punk Metal
Não sabia que essa música era do Motorhead. Taí a versão original de R.A.M.O.N.E.S. Metaleiros homenageando a melhor banda de todos os tempos!
terça-feira, 14 de novembro de 2006
sábado, 11 de novembro de 2006
Viagem de Volta - Parte 3
Buenas, eu sei que estou demorando pra atualizar aqui, mas os últimos dias tem sido de correria. Mas vamos lá, vou contar a terceira e última parte da viagem até Trento, onde estou morando.
Depois do city tour em Lisboa, voltei para o aeroporto para pegar o voo até Zurique. O voo deveria sair por volta das 17:30, mas pra variar atrasou. O voo saiu atrasado. Acabei chegando em Zurique pouco antes da meia-noite. Pior, fui pegar a mala da esteira e lá se foi a alça. Ficou a verdadeira mala sem alça. 33Kg de mala sem alça. É mole? Ainda bem que pelo menos tinha uma alça lateral, mas não tão conveniente quanto a que arrebentou. Lá fui eu com duas malas gigantes pegar o metrô até a estação de Zurique. É realmente gratificante subir em metro com duas malas de 33Kg cada, uma delas sem alça.
Buenas. Quando cheguei na estação, meia-noite e pouco, evidentemente não haviam mais trens para nenhum lugar que me interessasse. Comprei, nas máquinas pois as bilheterias estavam fechadas, uma passagem para Lugano para as 6 da manhã. Nisso já era quase uma da manhã, e eu pensei comigo: "Já dormi no aeroporto em Lisboa na ida, não vou pagar um dos acessíveis hotéis de Zurique para ficar das 2 as 5 da manhã, vou ficar rateando aqui na estação mesmo até as 6 horas." Beleza, mas quando deu 2 da manhã veio o segurança, primeiro falando em alemão e ao ver que eu não entendia lhufas falou em inglês: "A estação vai fechar, o Sr vai ter que sair. Aqui dentro ninguém pode ficar. Reabrimos às 4 horas." Que beleza, lá fui eu com minhas 2 malas ficar na porta da estação, no ponto de táxi. Quase acabei com minha revistinha de palavras cruzadas. Lá pelas tantas chegou um suiço meio de trago, conversou um monte com os taxistas em alemão e depois veio falar comigo em alemanglês. Já tava meio frio aquela noite, e quando o cara ficou sabendo que eu era do Brasil disse que eu deveria ir para a rua tal, onde tem festas latinas e tal. Se não fossem as minhas malas talvez tivesse aceitado, mas preferi seguir nas palavras cruzadas. Quando eram umas 3:30 mais ou menos me começa uma chuva extremamente gelada. Era tudo que eu estava precisando. Fui o mais pra baixo da marquise possível mas mesmo assim o vento trazia a chuva pra cima de mim. Que beleza!
Finalmente ás 4 da manhã reabriu a estação e eu e mais uns malucos que devem ficar na estação todas as noites, pois pouco antes das 4 apareceram para esperar abrir. Aí esperei até as 6 e embarquei com minhas confortáveis malas no trem. Chegando em Lugano, a boa notícia que eu já esperava é que para passar de uma plataforma a outra deve-se descer e subir escadas, o que é ótimo com 66Kg de bagagem. Comprei minha passagem para Trento e voltei a subir e descer escadas para pegar o trem. Com escala em Milão (estação grande, não tem escada!) e Verona (Aqui curti mais umas escadas...) finalmente cheguei a Trento, meu destino final, onde as últimas escadarias me esperavam. Passei a primeira noite em Trento e, no segundo dia já me mudei para minha nova casa, levando as malas de ônibus. Maravilha!
Agora, sempre que eu vejo as malas aqui em casa já me lembro de chuva e de escadas. Mas faz parte. Tá na chuva é pra se molhar, pelo menos tem conteudo pra escrever no blog.
Estou morando com dois outros estudantes. Um da Ucrania e outro da Bielorrussia. Tranquilo. O problema é quando resolvem falar em russo entre si. Aí não entendo lhufas. Buenas, essa foi a última e mais cansativa parte da viagem. No próximo post falo de Trento, minha nova cidade.
Depois do city tour em Lisboa, voltei para o aeroporto para pegar o voo até Zurique. O voo deveria sair por volta das 17:30, mas pra variar atrasou. O voo saiu atrasado. Acabei chegando em Zurique pouco antes da meia-noite. Pior, fui pegar a mala da esteira e lá se foi a alça. Ficou a verdadeira mala sem alça. 33Kg de mala sem alça. É mole? Ainda bem que pelo menos tinha uma alça lateral, mas não tão conveniente quanto a que arrebentou. Lá fui eu com duas malas gigantes pegar o metrô até a estação de Zurique. É realmente gratificante subir em metro com duas malas de 33Kg cada, uma delas sem alça.
Buenas. Quando cheguei na estação, meia-noite e pouco, evidentemente não haviam mais trens para nenhum lugar que me interessasse. Comprei, nas máquinas pois as bilheterias estavam fechadas, uma passagem para Lugano para as 6 da manhã. Nisso já era quase uma da manhã, e eu pensei comigo: "Já dormi no aeroporto em Lisboa na ida, não vou pagar um dos acessíveis hotéis de Zurique para ficar das 2 as 5 da manhã, vou ficar rateando aqui na estação mesmo até as 6 horas." Beleza, mas quando deu 2 da manhã veio o segurança, primeiro falando em alemão e ao ver que eu não entendia lhufas falou em inglês: "A estação vai fechar, o Sr vai ter que sair. Aqui dentro ninguém pode ficar. Reabrimos às 4 horas." Que beleza, lá fui eu com minhas 2 malas ficar na porta da estação, no ponto de táxi. Quase acabei com minha revistinha de palavras cruzadas. Lá pelas tantas chegou um suiço meio de trago, conversou um monte com os taxistas em alemão e depois veio falar comigo em alemanglês. Já tava meio frio aquela noite, e quando o cara ficou sabendo que eu era do Brasil disse que eu deveria ir para a rua tal, onde tem festas latinas e tal. Se não fossem as minhas malas talvez tivesse aceitado, mas preferi seguir nas palavras cruzadas. Quando eram umas 3:30 mais ou menos me começa uma chuva extremamente gelada. Era tudo que eu estava precisando. Fui o mais pra baixo da marquise possível mas mesmo assim o vento trazia a chuva pra cima de mim. Que beleza!
Finalmente ás 4 da manhã reabriu a estação e eu e mais uns malucos que devem ficar na estação todas as noites, pois pouco antes das 4 apareceram para esperar abrir. Aí esperei até as 6 e embarquei com minhas confortáveis malas no trem. Chegando em Lugano, a boa notícia que eu já esperava é que para passar de uma plataforma a outra deve-se descer e subir escadas, o que é ótimo com 66Kg de bagagem. Comprei minha passagem para Trento e voltei a subir e descer escadas para pegar o trem. Com escala em Milão (estação grande, não tem escada!) e Verona (Aqui curti mais umas escadas...) finalmente cheguei a Trento, meu destino final, onde as últimas escadarias me esperavam. Passei a primeira noite em Trento e, no segundo dia já me mudei para minha nova casa, levando as malas de ônibus. Maravilha!
Agora, sempre que eu vejo as malas aqui em casa já me lembro de chuva e de escadas. Mas faz parte. Tá na chuva é pra se molhar, pelo menos tem conteudo pra escrever no blog.
Estou morando com dois outros estudantes. Um da Ucrania e outro da Bielorrussia. Tranquilo. O problema é quando resolvem falar em russo entre si. Aí não entendo lhufas. Buenas, essa foi a última e mais cansativa parte da viagem. No próximo post falo de Trento, minha nova cidade.
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