quarta-feira, 19 de junho de 2013

Esse é o Brasil!


Não dá pra não falar sobre o que está acontecendo nas ruas do país todo. Sou obrigado a reativar esse blog que estava inativo há mais de um ano. O blog também acordou com o barulho dos últimos (e provavelmente próximos) dias. É espetacular e chega a ser emocionante ver as manifestações pacíficas e apartidárias que temos visto.

Alguns militantes de partidos questionam ou reclamam que o pessoal não tem aceitado manifestações partidárias nos protestos. O motivo é simples, o povo não acredita mais em partidos. E está deixando isso bem claro. Pouco importa qual vai ser a "sigla" que vai melhorar as coisas, desde que as coisas melhorem. Se o PT fizer o que tem que ser feito, ótimo. Se vier o PX, o PY ou o PQP e fizer o que tem que ser feito, ótimo também. Não dou a mínima para a sigla que aparece entre parênteses ao lado do nome do presidente. Partidos não tem relevância nenhuma. O povo está dizendo que partidos não o representam.

Outros dizem que "não se sabe" o que querem e quais as reivindicações dos protestos. A meu ver o que deve ser feito é claro. Basta ler os cartazes. Basta verificar a opinião das pessoas no próprio site da Camara dos Deputados. Todo mundo sabe o que deve ser feito.

Todo mundo sabe que: Tem que acabar de vez com a PEC 37 (e qualquer outro projeto nessa linha) e lançar projetos no sentido oposto, que aumentem a fiscalização e a punição aos corruptos. Tem que se fazer as reformas política e tributária. O Lula vivia dizendo que queria fazer essas reformas mas que não ia ter apoio ou ambiente no congresso. O ambiente é agora, o momento é hoje. Se querem mesmo fazer essas reformas que façam e o povo vai apoiar. Mas tem que ser uma reforma política de verdade, que busque a representatividade da vontade da população, e não uma reforma para fortalecer ainda mais partidos que, sabe-se, não representam ninguém além de seus próprios caciques. Um bom ponto de partida para a reforma política seria o voto distrital. Tem que acabar com os poderes políticos de condenados pela justiça e fazer com que cumpram suas penas. Tem que fazer valer a ficha limpa. Tem que acabar com distorções sem sentido como homofóbicos liderando comissões de direitos humanos e latifundiários chefiando comissões de meio-ambiente (e aqui é outro ponto que tem que estar na verdadeira reforma política, exigir que os indicados para cargos dessa importância sejam pessoas da área, e não usar cargos como moeda de troca por apoio político). Tem que investir os recursos públicos com responsabilidade. Tem que ter vergonha de pagar salários de 800 reais para professores, médicos e policiais. Tem que ter infraestrutura e transporte decente a um preço justo. Tem que diminuir o abismo entre o que se arrecada e o que se oferece em troca à população.

Todo mundo sabe o que deve ser feito. E são muitas coisas, muito mais do que escrevi aqui, fique a vontade para contribuir nos comentários. Só não se faz o que se deve porque mexe no bolso e no poder de muita gente. Mas parece que o povo não aceita mais ser feito de palhaço e quer mudar isso.

sábado, 24 de dezembro de 2011

Sobre Lecionar

Lá se foram dois meses sem digitar nada por aqui. O tempo está voando em velocidades supersônicas. Agora que acabou-se meu primeiro semestre como professor, resolvi escrever algumas linhas sobre a experiência. A charge é de Sidney Harris.

Dá trabalho. Preparar as aulas buscando que sejam tão interessantes quanto possível dá trabalho. Se preparar para as possíveis perguntas que podem surgir - sabendo que, de qualquer forma, vão surgir perguntas para as quais não se está preparado - dá trabalho. Avaliar trabalhos dá trabalho. Avaliar trabalhos semanais como eu fiz em pelo menos uma das minhas disciplinas - e pretendo fazer em mais uma ou duas no próximo semestre - dá muito trabalho.

É frustrante. É frustrante ver que alguns alunos não conseguem ou - mais provavelmente - não querem acompanhar ou aprender o que estamos mostrando. É frustrante constatar que para cerca de cinquenta por cento dos alunos, passar com média 5 no exame está ótimo e dá a sensação de missão cumprida. Ainda não sabem que a nota e o diploma são secundários. Que na vida vão precisar do que aprenderam, e não apenas do diploma. Frustrante se prestar a corrigir trabalhos semanais de alunos que entregam descaradamente cópias dos programas uns dos outros.

Mas é sobretudo gratificante. É gratificante se aprofundar em conteúdos muito mais do que o fazemos como alunos. É gratificante dar aulas. Gratificante ver alunos - ainda que não todos, ainda que a minoria - interessados no que estamos mostrando. Sentir que alguém está aprendendo alguma coisa e que somos diretamente responsáveis por esse aprendizado é gratificante. Gratificante aprender com os alunos. Gratificante ouvir perguntas ou ideias que não tínhamos pensado antes da aula. É gratificante acompanhar a melhora nos tais trabalhos semanais ao longo do semestre por parte de alguns alunos. Ou a constância dos que já são bons desde o início. Gratificante ver a qualidade dos bons trabalhos finais das disciplinas, um pouco mais elaborados que os semanais. Gratificante de vez em quando receber algum reconhecimento por parte dos colegas que trabalharam um pouco mais de perto comigo e de alguns alunos também.

Sobretudo gratificante. Estou profissionalmente satisfeito.

E que venha o próximo semestre.

sábado, 29 de outubro de 2011

Livro da Vez: Casa Grande & Senzala - Gilberto Freyre

Sensacional. Uma sensacional aula de história. Uma verdadeira aula de Brasil. É o tipo de livro que se lê com prazer. O livro que "acrescenta" alguma coisa. E nesse caso é alguma coisa que está dentro de nós mesmos, no inconsciente, na cultura e na história de cada um de nós, brasileiros.

De se ressaltar no livro que ele está falando das pessoas, dos cidadãos, dos índios, dos portugueses e dos escravos negros. Não é um livro sobre os personagens históricos, suas leis, guerras e políticas. Esses são citados apenas de passagem, se tanto. O personagem principal do livro - como também o é da história do Brasil e do mundo - é o cidadão comum. Uma narrativa que se desenvolve em torno dos senhores de engenho, das suas esposas, dos índios, dos negros, dos jesuítas e dos filhos de todos esses. Enfim, em torno do povo brasileiro. Do cotidiano dos tempos coloniais. Às vezes chegando até ao tempo em que foi escrito, no início dos anos 1930.

Trata-se de uma obra extremamente bem documentada. Pesquisa profunda e cuidadosa, citando inúmeras referências. Na edição que eu li, constavam mais de sessenta páginas de bibliografia. Inclusive muitos documentos históricos e jornais do período colonial e do império. Um trabalho muito bem feito. Muito bem feito e muito bem escrito. Um estilo agradável, contundente e que vai além do livro de história para ser também uma obra de literatura, como arte.

Claro que o livro não é cientificamente atualizado ou correto o tempo todo. Há, a meu ver, algum exagero quando ele fala em algumas características genéticas que os povos (e em algum caso, mesmo famílias) possuiriam e que determinariam certas características dessas famílias e povos. Ele também fala em "eugenia" e superioridade de uma "raça" sobre a outra de uma forma que não se fala mais hoje em dia. Quando fala da influência do povo judeu sobre o povo português, por exemplo, chega a beirar o anti-semitismo. Justamente pouco antes da segunda guerra. Mas há que se inserir o autor no contexto do seu tempo, e no princípio dos anos 30, creio eu, a ciência apontava realmente para essas diferenças mais profundas, as quais hoje a ciência nos mostra que não são tão profundas assim, chegando a ser questionado o próprio conceito de "raças" humanas.

Mas o livro transcende essas questões, e faz com que todos os brasileiros se identifiquem com suas origens. Faz com que percebamos de onde viemos e que temos traços do índio, do português e do negro. Uma miscigenação bem sucedida que, pra mim, é um dos maiores motivos de orgulho de ser brasileiro. O fato de que conseguimos conviver em paz e, relativamente unidos como um povo só, independente da diversidade das nossas origens étnicas, culturais ou religiosas tão diversas, enquanto a maioria do resto do mundo ainda se comporta de forma um pouco (ou muito, dependendo do lugar) diferente.

O livro transcende as críticas. Transcende a sociologia e a antropologia. É literatura. E é sobre nós. Sobre o nosso passado. Sobre a nossa infância às vezes. Embora não fale no Rio Grande do Sul, que no período colonial talvez tivesse mais semelhanças com a América espanhola que com o Brasil, é possível, e pra mim inevitável, se identificar com o que ele diz. Mesmo o gaúcho que nunca tenha ido a Bahia, se identifica com o tabuleiro da baiana. Nem que seja através da música do Caetano ou de um gibi do Zé Carioca.

Em resumo, um livro que, ao descrever rituais de danças indígenas, consegue fazer uma ponte para que eu - que nunca sequer vi um índio de perto - consiga identificar nesses rituais lembranças da minha própria infância é um livro especial pra mim. Trata-se de um livro que todo brasileiro deveria ler.


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sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Por que Ramones?

Bastante gente sabe que minha banda preferida (em empate técnico com os Beatles, mas Beatles é hors concours) são os Ramones. Hoje me deu vontade de escrever o porquê disso.

Vejamos o que era a tendência do rock no início dos anos 70, pouco antes do Ramones (pelo menos a tendência do rock "mainstream"): Led Zepelin com solos de guitarra de meia-hora. Bandas progressivas como Pink Floyd com sua música extremamente elaborada, com alta qualidade técnica e raios laser. Psicodelia total de caras como David Bowie e a última fase dos Beatles. Prodígios da guitarra como o Jimi Hendrix e bandas mais próximas do metal ou hard rock como o Black Sabbath e o Deep Purple.

Todas bandas tecnicamente sensacionais. Não se pode questionar a arte desses caras (embora se possa gostar ou não gostar). Mas todas elas meio que se afastavam do rock básico, original, simples, trivial mas verdadeiramente rock. Baixo bateria e guitarra. 1-2-3-4! Músicas rápidas, mensagens poderosas. Uma rebeldia que talvez a "nerdice" musical do Pink Floyd ou do Led não representasse mais, pelo menos não com a mesma energia (na minha visão).

Aí, nesse cenário o Ramones aparece, chuta o balde e traz de volta o rock simples, mas que sendo simples tinha dominado o mundo nos anos 60. E trazem o rock simples ainda mais rápido e potente do que era antes. Com letras escrachadas. Traz a diversão e a alegria de volta. Traz o punk rock! E a partir daí surgem milhares de bandas pelo mundo todo, do Sex Pistols ao Green Day, e, ao menos pela atitude, se não tanto pelo som, até o grunge do Nirvana. Não dá pra desqualificar os caras por não terem a técnica de guitarra do Hendrix ou do Jimmy Page. A ideia não era essa.

Não estou desmerecendo as bandas que citei acima, só estou colocando o contraste do Ramones com todas elas e colocando a ideia de que o Ramones era necessário naquele momento pra trazer o rock de volta (e hoje também, seria necessário que surgisse uma banda assim. Quem nos dera...), mostrando que eles representaram algo realmente dissonante com a realidade da época, com alta criatividade e originalidade. Isso pra mim é arte pura.

Fazendo uma analogia com guerras, já que o rock tem muitas vezes algo de violento, o metal soa como um tanque de guerra: Sólido, lento e pesado. O punk como uma metralhadora: Rápido, ágil e mortal. Ambos tem seu lugar e sua aplicação na guerra. Eu prefiro as metralhadoras. Mas respeito e de vez em quando até ouço os tanques.

"We need change, we need it fast
Before rock's just part of the past
'Cause lately it all sounds the same to me
Oh oh oh oh, oh oh"


Ramones

quinta-feira, 29 de setembro de 2011

E as Crianças, Hein?

No último feriado da revolução farroupilha, estava eu almoçando - às 4 da tarde, horário em que se deve almoçar nos feriados - no KFC, uma das poucas redes de fast food que eu gosto quando o comportamento de um guri me chamou a atenção. O guri estava acompanhado por duas jovens senhoras. Tudo tranquilo até que o guri, do nada começou a "intimar" as mulheres:

- Ei! Como foi que vocês compraram esse lanche?! Hein?! Me diz! Foi com dinheiro não foi?!

E continuava...

- Como vocês disseram que não tinham dinheiro pra comprar o <nome de brinquedo ou goluseima ininteligível> pra mim? Vocês estão pensando o que?! Qual é a de vocês? Querem me enganar, po! Eu não sou otário não!

Dizia isso aos gritos, batia na mesa enfurecido, em uma falta de respeito absurda com a mãe, tia ou o que quer que fossem aquelas senhoras. Só faltou ele puxar uma cinta e bater nas mulheres. Inversão de papéis total. Típico exemplo do mundo moderno de situações em que "os postes estão mijando nos cachorros". E as senhoras caladas, atônitas e sem reação. Só ouvindo o discurso enfurecido do guri e comendo seu frango frito.

Nessas horas eu me pergunto onde vamos parar. Quando vemos crianças dando tiro em professor, desrespeitando tudo e todos é um tanto preocupante. Não entendo o que acontece. Ou sempre foi assim e só agora estou vendo isso ou a coisa está realmente indo de mal a pior. Falta energia aos pais para educar. Falta tempo quando ambos trabalham. Falta fibra. Falta conversar com a criança. Ensinar os limites. Acho que definitivamente a televisão está falhando em educar nossas crianças. A televisão atinge bem seu objetivo que é vender brinquedos, mas para educar não serve. Precisamos passar mais tempo e tempo com maior qualidade com nossos filhos. O Brasil definitivamente precisa de uma revolução na educação. Tanto na educação formal quanto na educação em casa.

quinta-feira, 21 de julho de 2011

Roleta


"A roleta - inventada, ao menos segundo a lenda, por Blaise Pascal ao brincar com a ideia de uma máquina de movimento perpétuo - é basicamente uma grande tigela com partições (chamadas calhas) com a forma de finas fatias de torta. Quando é girada, uma bolinha de gude inicialmente gira pela borda, mas acaba por cair em um dos compartimentos, numerados de 1 a 36 além do 0 (e do 00, em roletas americanas). O trabalho do apostador é simples: adivinhar em qual compartimento cairá a bolinha. A existência de roletas é uma demonstração bastante boa de que não existem médiums legítimos, pois em Monte Carlo, se apostarmos US$1 em um compartimento e a bolinha cair ali, a casa nos pagará US$35. Se os médiums realmente existissem, nós os veríamos em lugares assim, rindo, dançando e descendo a rua com carrinhos de mão cheios de dinheiro, e não na internet, com nomes do tipo Zelda Que Tudo Sabe e Tudo Vê, oferecendo conselhos amorosos 24 horas por dia, competindo com outros 1,2 milhões de médiums na internet (segundo o Google)."

Leonard Mlodinow
em "O Andar do Bêbado"

terça-feira, 14 de junho de 2011

Privilégios

Em 29 de novembro de 1807 embarcava em Lisboa d. João, príncipe regente de Portugal, juntamente com sua mãe d. Maria, a "rainha louca" e com diversos familiares e amigos. Embarcavam para o Brasil, fugindo das tropas de Napoleão que então conquistava praticamente toda a Europa. D. João trazia consigo o tesouro real. Que consistia de aproximadamente a metade do dinheiro em circulação em Portugal na época, sem falar em outros inúmeros valores como obras de arte e extravagâncias em geral. Privilégios da realeza. Mas o leitor mais crítico pode perguntar que realeza é essa? Quem é essa família? Quem são essas pessoas que merecem concentrar mais da metade da riqueza de toda a nação? Obviamente alguns anos mais tarde d. João levaria de volta para Portugal consigo aquelas toneladas de dinheiro. Uma ganância caricata. Pra mim chega a ser patético um ser humano andar pra lá e pra cá com uma esquadra de navios cheios de dinheiro. Um robin hood ideal na época poderia duplicar o patrimonio de toda a população do país se tirasse o patrimonio de apenas uma família, a família Real. Essa família foi das mais influentes na independência e na história do Brasil. O filho de d. João viria a declarar a independência e a ser o primeiro imperador do Brasil.

A questão que quero colocar é se hoje a situação é muito diferente daquela época em que o povo tinha muito pouca informação e acreditava que os monarcas eram escolhidos de Deus para lhes comandar e explorar. Hoje vemos políticos ganhando salários vinte, trinta vezes maiores que os de bombeiros, policiais, professores e a média da população em geral. Isso se formos contar só os salários oficiais dos nobres políticos. Além desses salários, mais do que suficientes para qualquer pessoa ter uma vida muito digna para si e para sua família, parlamentares e políticos em geral contam com auxílio moradia, auxílio alimentação, auxílio saúde, verbas de gabinete, um exército de assessores, e por aí vai. Será que parlamentares com salários de R$ 26.700 precisam de algum "auxílio"? Não conseguem se virar com seus salários? Além dos salários, auxílios e benefícios, é comum ter senador recebendo aposentadoria por ter sido governador, por exemplo. Um absurdo. Por esse raciocínio, o leitor que trabalhou quatro anos como pedreiro, e agora é marceneiro também deveria ter direito a aposentadoria de pedreiro, além do salário de marceneiro. Sem falar que a aposentadoria deles sem dúvida é das maiores que existem. Afinal os políticos são os que mais necessitam de ajuda, coitados.

Não satisfeitos com os salários que chegam a ser uma ofensa ao cidadão comum que trabalha muito mais e ganha muito menos, não satisfeitos com todos os auxílios e privilégios em cima desses salários e aposentadorias, nossos políticos ainda precisam ser desonestos. Precisam ser desonestos para incrementar suas parcas rendas, pobrezinhos. E por isso vemos diariamente escândalos de corrupção, um após o outro. Testemunhamos governos pagando mesadas a deputados. Assistimos o dinheiro público ser despejado em obras superfaturadas, em licitações fraudulentas, em elefantes brancos inúteis, em cabides de empregos e em cuecas e meias de corruptos em geral.

Vemos o Sarney ocupando cargos influentes em todos os governos desde o início da ditadura militar até hoje. Um exemplo de flexibilidade a dele, de conseguir apoiar tantos governos de ideologias tão diferentes, simplesmente pelo prazer do poder. Vemos o Maluf com a vergonhosa fama de "rouba mais faz" defendida por seus próprios eleitores se reeleger ano após ano. Vemos o Palocci ficar milhonário da noite pro dia prestando consultoria para mega-empresas sobre como será a política econômica do governo do seu partido. Vemos gente roubando dinheiro de ambulância e de merenda escolar.

E não é uma questão ideológica ou partidária. Tem mensalão do PT e mensalão do DEM e mensalão de qualquer partido que tenha poder em algum lugar. Temos cargos de confiança inúteis no país, no estado e no município. É uma questão humana. Uma questão da ganância e do egoísmo humanos. É alarmante. É estarrecedor. É triste. É desumano. É uma violência contra o cidadão. E é endemica, é ubíqua na política brasileira.

Como se não bastassem os políticos determinarem seus próprios salários e privilégios, eles também "fiscalizam" e "julgam" seus próprios crimes através de CPI's que nunca dão em nada. Pelo menos eu não me lembro de uma única CPI que tenha contribuído com alguma coisa além de pizza. É uma constante troca de pizzas o que fazem as CPI's nas casas legislativas desse país. E quando alguma coisa vai parar no judiciário, as denúncias nunca são boas o bastante para condenar um político sequer. O juiz culpa o MP, o MP culpa a polícia, a polícia culpa o executivo, o executivo culpa a imprensa e ninguém assume nada. É mais fácil cobrar a conta de quem nunca reclama, o contribuinte que vai lá religiosamente pagar o salário de todos eles.

Se diz a constituição que "todo o poder emana do povo", justo seria que houvessem plebiscitos para decidir sobre aumentos de salários de políticos. Para decidir sobre concessão de novos privilégios à classe política. Justo seria se crimes de corrupção fossem julgados por júri popular, e não pelos próprios políticos. Justo seria se políticos tivessem um salário digno em vez de um salário abusivo. Justo seria se "auxílios" fossem dados a quem realmente necessita. Justo seria se o absurdo que é pago de impostos nesse país, retornasse ao povo da forma que deveria. É complicado, meus amigos...

domingo, 10 de abril de 2011

Além do Bem e do Mal


Nietzche diz assim na sua obra entitulada "Além do Bem e do Mal":

‎"A 'exploração' não é própria de uma sociedade corrompida ou imperfeita e primitiva: ela é própria da essência daquilo que é vivo como função orgânica fundamental, ela é uma consequência da autêntica vontade de poder, que é precisamente a vontade de vida. - Supondo que, como teoria, isso seja uma inovação - como realidade, é o fato primordial de toda a história: seja-se honesto consigo mesmo até esse ponto!"

Há de se convir que os políticos, por exemplo, são seres extremamente "vivos" para Nietzsche. É um interessante debate a questão de concordar com ele sobre o que é ou não é "corrompido" ou "imperfeito". Mas não há como deixar de concordar com ele que isto que ele diz é, definitivamente, a realidade.

Imagem daqui.

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Cavernas Partidárias

Nesse período pós eleições de montagem dos governos, surgiu na comunidade da minha cidade no Orkut uma discussão a respeito da escolha de ministros e secretários de governos estaduais. A questão daquele debate que eu quero apresentar aqui é a questão da importância do escolhido ter "mérito político" versus "mérito técnico". É comum a visão de que ambos são importantes.

A pergunta chave seria: Por que diabos é importante o "mérito político" em cargos como ministérios, secretarias estaduais, municipais e etc? Por que são tão (ou mais?!) importantes que questões técnicas??

A única vantagem que eu vejo na "questão política" é a capacidade de "convencer" mais deputados, senadores ou vereadores. É só isso mesmo ou eu perdi alguma coisa do que seria "mérito político"? Eu acho isso uma distorção do sistema, já que na verdade o ministro/secretário não convence ninguém que o projeto dele é bom ou ruim por "questões políticas". Ele apenas é aprovado pela cor do partido dele. Poxa, pra mim o correto seria o cara convencer a todos (ou a maioria) que o projeto é tecnicamente bom. E que os parlamentares aprovassem projetos que achassem tecnicamente bons, sem qualquer preconceito de cor partidária. Eu acho que o melhor pra população seria isso. O problema é que nenhum partido ou governo se preocupa de fato com a população. Eu acho uma distorção absurda.

Se eu fosse governo eu nomearia ministros/secretários única e exclusivamente por questões técnicas e daria preferência até por pessoas que nunca manifestaram posição partidária. Aí os parlamentares que se virassem pra de fato ter que ler o projeto e decidir se é bom ou não. Afinal eles são muito bem pagos pra isso.

Mas o sistema é tão distorcido que minha estratégia não funcionaria, pois os técnicos seriam vistos como sendo do partido do governo e os parlamentares votariam com esse pensamento, nunca com o mérito do projeto e a população em mente. Sinceramente eu acho que esse sistema político de partidos tem problemas graves. Ninguém quer pensar. É mais fácil escolher cores que avaliar projetos. É triste mas é verdade.

Então, nesse raciocínio, eu poderia fazer a mesma pergunta pro militante de qualquer partido: "Tu preferes que seja aprovado um projeto tecnicamente ruim para o Brasil do teu partido preferido ou um projeto tecnicamente bom para o Brasil do partido que mais detestas?". Não sei o que eles responderiam. Talvez respondam o que faz sentido (assumindo que querem o melhor para o Brasil). O problema é que na prática talvez eles não tomem esse tipo de decisão. O que acontece é que quando se está dentro de uma das verdadeiras cavernas de Platão que são os partidos e "ideologias" políticas, todas as ideias do partido em questão são melhores que todas as ideias de qualquer partido adversário. Isso simplesmente não pode ser verdade, a menos que exista um partido ideal e perfeito. Se existir, eu me filio agora mesmo. Mas acho difícil que exista. Nunca se observou na natureza até hoje nada que seja ideal e perfeito. Dificilmente se observaria tal coisa na política brasileira e mundial. Se concordarmos então, que não há o tal "partido ideal", a alternativa mais benéfica me parece ser analisar tecnicamente e sem partidarismo projeto a projeto. Tecnica, honesta e cientificamente escolher o melhor para a população. Mas quem acredita que algum político vai querer o que é melhor para a população em detrimento do partido dele...

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Rio de Janeiro

Houve ontem e continua hoje uma mega-operação das forças da ordem envolvendo o BOPE, a polícia militar, a polícia federal, a polícia civil, a marinha, o exército e a aeronáutica na cidade do Rio de Janeiro. Estive olhando na televisão e as imagens são de guerra. Mas pelo menos pelo que eu vi, de longe e pela imprensa, me parece estar agindo certo o poder público. Já era hora de tentar dar um basta ao verdadeiro exército de traficantes que se viu ontem nas imagens da televisão. Falando em imagens, vou usar o conceito que diz que uma imagem vale mais do que mil palavras e ilustrar o post com a imagem mais expressiva que encontrei na imprensa.

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

As Mulheres e o Paintball

Devem existir umas duzentas mil maneiras desse post ser mal interpretado, mas vou escrever mesmo assim. Talvez alguém entenda o que quero dizer.

Ainda antes de ontem, no trem, subiram cinco gurias de uns 20 anos mais ou menos. Elas eram todas grandalhonas. Vestiam-se no estilo tênis, jeans e moletom. Conversavam sobre paintball (ou alguma variante eletrônica de paintball). Falavam alto, praticamente aos gritos sobre estratégias de guerra. Como eram cinco e só haviam três lugares vagos, sentaram umas no colo das outras. Duas delas dividiam um iPod, cada uma ouvindo de um fone. Pra mim nada pode ser menos feminino que uma garota narrando quantas pessoas fusilou com a mesma entonação, velocidade e volume com que o Pedro Ernesto Denardim narra um contra-ataque do Inter em jogo decisivo de Libertadores. Por favor, não vá ninguém que joga paintball se ofender. Elas poderiam estar falando sobre basquetebol e me dar a mesma impressão. Existem maneiras femininas de se jogar paintball.

A coisa mais feminina que aconteceu na quase uma hora de papo delas que presenciei foi quando uma disse pra outra:

- E aí, tá namorando o fulano?
- Er, é, uh, mais ou menos! (já olhando pra outra guria e tentando fugir do assunto)
- Oh, che carina! (uma mistura de "que bonitinha" com "que simpática", apertando a bochecha da amiga)

Outro exemplo, a tal Mayara que ficou famosa pelo preconceito estúpido pós-eleições. Deixando de fora um instante a estupidez do preconceito em si, chamo a atenção para a forma em que ela expressa o preconceito. Fala em "matar afogadas" as pessoas. Isso é coisa "de homem". É de uma violência e estupidez que são das piores coisas "de homem" que existem. Triste ver algo assim saindo de uma menina.

Existem correntes do feminismo que pregam que a mulher deve chegar pro homem e falar algo como: "Escuta aqui o seu filho da puta: eu quero isso, isso e aquilo! Tenho direito a tal e tal coisa! Tá ouvindo porra!?!?" Elas têm direito mesmo. Eu sou totalmente a favor dos direitos iguais, da independência feminina e tudo mais. Mas pelo menos comigo, não sei dos outros homens, uma mulher tem milhões de maneiras mais eficazes de conseguir o que quer e tem direito do que berrando desse jeito.

Em resumo, o que eu quero dizer é que acho que o mundo vai ser muito chato se todo mundo "virar homem". Será que não é possível a igualdade mantendo as diferenças saudáveis? Será que a emancipação do feminino tem que ser o fim do próprio feminino? Houve um tempo em que se dizia que se as mulheres governassem o mundo não existiriam guerras. Será que isso ainda é verdade? São dúvidas que eu tenho hoje.

Nem tudo está perdido, no dia seguinte, também no trem eu vi gurias "normais" falando em um tom de voz normal sobre fotos, sobre um mosaico que uma delas estava fazendo. Coisa mais bonitinha.