terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Berlim Histórica

Bueno, vamos falar de Berlim então. Eu fiz um city tour muito legal sobre o terceiro reich, onde se pode aprender muitas coisas interessantes. Em uma tarde é possível entender como o Hitler conseguiu o poder absoluto na Alemanha sem quebrar as leis da época, por exemplo. Acontece que houve um incêndio criminoso no parlamento (Reichstag). Não se sabe com certeza até hoje quem seriam os responsáveis. Há quem diga que foram os próprios nazistas, já que aquele prédio simbolizava a democracia, da qual eles não eram muito fãs. Mas o Hitler, chanceler na época, colocou a culpa nos Comunistas, e solicitou e aprovou em medida emergencial o poder de fazer o que quisesse por um tempo limitado, 30 dias ou algo do gênero. Nesses 30 dias ele simplesmente mandou prender todos os parlamentares da oposição e depois disso, votou "democraticamente" no parlamento para ser nomeado führer, com poder absoluto, e aí deu no que deu. Há um memorial perto do Reichstag para lembrar dos políticos que foram presos na época e que foram mortos pouco antes do fim da guerra, quando a derrota era iminente.

Aliás memoriais não faltam pela cidade. O memorial das vítimas do holocausto, por exemplo. Impossível ficar indiferente ao holocausto. Provavelmente a maior demonstração de brutalidade da história da humanidade. Houveram outras tentativas de genocídio na história e ainda hoje, mas nunca de forma tão fria e sistemática. Uma verdadeira indústria da morte. O memorial do holocausto não tem nenhuma explicação. Diz que cada pessoa deve interpretá-lo como preferir. Caminhar por ali e sentir a claustrofobia que o local inspira. Foi construído bem no centro da cidade. Próximo ao portão de Brandenburgo e do Reichstag, procurando fazer com que a cidade e a Alemanha nunca esqueçam o horror que aconteceu e que tal barbaridade nunca venha a se repetir. O Holocausto e a segunda guerra são tão fascinantes que não importa quantos livros e filmes se façam a respeito, o assunto parece nunca se esgotar. Impressionante. E triste.

Em vários lugares se encontram pedras ligeiramente elevadas na calçada com dizeres do tipo "Nesta casa morou fulana de tal, deportada para Auschvitz no dia tal, onde foi morta na data x." A idéia seria que de tanto em tanto os cidadãos, em meio a suas vidas felizes e atarefadas na Berlim moderna, "tropecem" nessas pedras e se lembrem do que aconteceu. Claro que isso é simbólico, as pedras não são suficientemente elevadas para que alguém de fato tropece e se esborrache no chão, mas estão ali. Eu vi e li.

Outro memorial interessante encontra-se em uma praça onde se costumavam queimar livros que o regime nazista considerava inconvenientes. O memorial é uma série de estantes de livros vazias, onde deveriam estar as obras queimadas. Importantes autores alemães estavam entre os autores de obras "inconvenientes", como Albert Einstein e Sigmund Freud, por exemplo.

Tem, ainda, um memorial do soldado soviético desconhecido. Me conta o guia do tour que alguns alemães chamam o memorial de "memorial do estuprador desconhecido", pois afirmam que os Russos depois de conseguirem finalmente conquistar Berlim praticaram esse ato deplorável com muitas mulheres por lá. Afirma ainda o mesmo guia que as estatísticas de abortos feitos na época confirmam essa ideia (não, não está errado, com a reforma ortográfica "ideia" não tem mais acento). O interessante é que o memorial encontra-se no lado ocidental da cidade. No setor britânico. Motivo: Os russos foram os primeiros aliados a chegar lá. E quiseram deixar isso claro construindo antes que os demais aliados chegassem o tal memorial no território que seria deles. E porque o memorial não foi destruído pelos britânicos? Segundo o guia, ele mesmo britânico, "o memorial não foi destruído porque nem os britânicos seriam tão doentios a ponto de violar sepulturas das centenas ou milhares de soldados que estão sepultados ali. Aprendi que morreram muito mais soldados soviéticos ali do que seria necessário. Aprendi que Stalin decidiu que a União Soviética deveria ser a primeira a chegar a Berlim. Mais, deveria conquistar a cidade no dia primeiro de maio, data bacana dos trabalhadores e tal. E decidiu que queria isso independente de quantas vidas soviéticas isso custasse. A célebre foto que ilustra esse post, do soldado colocando a bandeira da URSS no topo do Reichstag no dia primeiro de maio, como queria Stalin, teria custado muitas vidas de soldados que entravam pela porta da frente, no hall só para serem alvejados pelos soldados alemães em pontos altos do interior do prédio. Me disse o guia que esse soldado que está colocando a bandeira teve que passar literalmente por cima de uma montanha de soldados russos mortos no hall de entrada para chegar lá em cima e finalmente tirar essa foto que enaltece a URSS. O mais correto, estrategicamente, seria manter o Reichstag cercado, como já estava, por algumas semanas ou meses até que os alemães se rendessem por falta de suprimentos, por exemplo. Mas isso só aconteceria bem depois de primeiro de maio de 1945 e da chegada das tropas aliadas ocidentais, algo inadmissível para nosso amigo Stalin.

Dados todos esses memoriais, eu percebo que realmente há um esforço no sentido de não esquecer mesmo o que aconteceu por parte da cidade. Esse esforço é louvável. Não recupera nem uma das vidas perdidas sequer, mas ainda assim louvável. Muito bonito.

Depois da guerra, Berlim continuou sendo um lugar único em termos históricos. Com a debandada de pessoas do mundo socialista para o capitalista através de Berlim logo depois da guerra e da instalação da "cortina de ferro", os soviéticos resolveram construir o famoso muro. Passa-se então a existência de dois modos de ver o mundo em uma mesma cidade dividida por um muro. Visitei o museu da DDR (Alemanha Oriental) que mostra o cotidiano do pessoal do lado comunista. Inclusive com um carro Trabant, o único carro que se podia comprar na DDR, e ainda assim depois de esperar anos na fila. Dizem que tinha gente que tinha filho recém nascido e já reservava um carro pra o guri receber quando crescesse.

Há ainda casos célebres de tentativas de fuga do lado oriental para o ocidental, como o de um casal de namorados. Eles namoravam já antes da construção do muro. Mas com o muro, ficou um de cada lado. A moça no lado oriental e o rapaz na parte oeste. Nosso herói teve uma ideia (de novo sem acento) brilhante. Começou a namorar uma outra guria, essa habitante da Berlim ocidental como ele, muito parecida com sua antiga namorada. Depois de um tempo de namoro, convenceu a nova namorada a passar um agradável fim de semana fazendo turismo no lado oriental. Chegando lá, roubou os documentos da moça e foi encontrar a antiga namorada, com quem fugiu para o lado ocidental usando os documentos. Parece que a história é verídica, mas o cara e a sua amada acabaram presos. Parece que a vítima do golpe, por azar dos golpistas, era parente de algum figurão do governo que deu um jeito de cuidar muito bem do caso.

Bueno, esse post longo todo pra dizer que Berlim é um lugar com uma história muito rica. Recomendo muito pra quem gosta de história uma visita e este city tour que eu fiz. Muito bacana mesmo. No próximo post eu falo mais sobre outros aspectos da cidade. Acho que deu pra perceber que eu curti bastante Berlim. Até a próxima!

Berlim

Passei o ano novo na capital da Alemanha. Uma grata surpresa. Toda a grande cidade tem uma região ou bairro mais underground, alternativo. Mas no caso de Berlim, o alternativo parece ser a regra. Uma cidade muito viva. Muito cultural. Muita arte de rua. Música punk, bares góticos e alternativos. Além disso, em Berlim tem muita história. Nazismo, segunda guerra, comunismo, o muro, o socialismo... Cada um desses itens daria um ou mais livros de história. Muito interessante estar em um lugar onde aconteceu tanta coisa. Nos próximos dois posts vou falar um pouco sobre Berlim. Primeiro sobre a parte histórica, e depois sobre algumas atrações da cidade em si. Aguarde e confie. Ah, a foto é do portão de Bradenburgo. Cartão postal da cidade.