quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Freud

"Há muito tempo filósofos e especialistas da humanidade nos dizem que erramos ao considerar nossa inteligência como uma força independente e em não levar em conta a dependência de tal inteligência da vida afetiva. Nosso intelecto pode trabalhar de maneira eficaz somente na medida em que não sofre influências afetivas muito intensas; no caso contrário, este age simplesmente como um instrumento a serviço de uma vontade e obtém o resultado que esta lhe inspira. Daí que, argumentações lógicas nada podem contra os interesses afetivos, e é por isso que, no mundo dos interesses, a argumentação baseada na razão é tão estéril. A experiência psicoanalítica comprova esta verdade. Essa tem meios para constatar a cada dia como, quando confrontados com pensamentos contrários a uma resistência afetiva, os homens mais inteligentes perdem imediatamente qualquer capacidade de compreensão e se comportam como imbecis, mas que, depois que tal resistência é vencida, a sua inteligência ressurge. Portanto, a cegueira lógica em que esta guerra colocou nossos melhores concidadãos è apenas um fenômeno secundário, a consequência de uma excitação afetiva que, espera-se, desaparecerá junto com as causas que a provocaram"

O contexto aqui é a primeira guerra mundial, que acontecia na época do texto, mas é impressionante como o parágrafo do Freud se encaixa bem em inúmeras situações, como em brigas de torcida de futebol, no partidarismo político cego agora na época das eleições ou no fanatismo religioso. A diferença é que as causas do partidarismo cego, das brigas de torcida e do fanatismo religioso, infelizmente, são mais permanentes que as daquela guerra. Sou fã do Freud, concordo com poucos caras tanto quanto eu concordo com ele.

Nota: Parágrafo extraído do texto "Considerações Atuais Sobre a Guerra e a Morte".

2 comentários:

Carina disse...

Guerras de "imbecis".
Manifestação da estupidez humana.
Se a inteligência fosse usada a favor do semelhante o mundo seria outro.

JOSÉ ROSÁRIO disse...

Belo o texto, muito feliz a analogia. O bom de visitar artigos do passado é que sempre confirmamos o quanto a vida é cíclica. Ler os artigos de ontem com fios condutores para o hoje é sempre um ganho real. Abraço!