sábado, 9 de outubro de 2010

Livro da Vez: O Diário de Anne Frank

As citações do texto que coloco aqui estão em inglês, tiradas da edição em inglês do diário que eu li. Sinto muito ao leitor que não entende o inglês, mas eu me senti incapaz de traduzir o sentimento expresso nas citações. Ainda sobre as citações, elas podem estragar um pouco alguma surpresa de quem for ler, mas acho que não muito. São apenas amostras do que é o diário em si. Enfim, se não quer saber detalhes de antemão, não leia o texto a seguir e leia o livro que é bem melhor e eu recomendo muito.

Ler o diário foi, pra mim, um grande prazer. E uma surpresa, pela capacidade que uma "guriazinha" de treze a quinze anos pode ter de escrever. É o tipo de texto em que se nota que o autor, a autora no caso, colocou ali o sentimento. Colocou ali sua honestidade. Em se tratando de uma auto-biografia, nos convidou a conhecer sua vida. Seus sentimentos, sua mais individual e pura intimidade. Talvez parte disso seja porque ela, pelo menos no início, não esperava que alguém além dela mesma fosse ler ou se importar com o que ela estava escrevendo. "it seems to me that later on neither I nor anyone else will be interested in the musings of a thirteen-year-old schoolgirl." O fato de o texto não ter inicialmente o objetivo de ser publicado o torna tão honesto quanto possível. E a honestidade, a sinceridade, a realidade de uma vida sem todas as censuras que a sociedade nos impõe é algo muito bonito e fascinante.

Escrevi um parágrafo sobre o diário de Anne Frank e sequer mencionei a guerra. Isso porque, na minha opinião não se trata de um livro sobre a guerra. Se trata muito mais da vida de uma adolescente. Seus sonhos, seus desejos, suas frustrações, suas dúvidas. Dúvidas que ela coloca de uma forma única. Verdadeira. Impressionante. Visceral, pelo menos pra mim. Com a peculiaridade de essa adolescência ter se dado em meio à segunda guerra mundial. A peculiaridade de ser a menina uma integrante do povo que mais sofreu naquela guerra. E a fatalidade de ela ter sido uma das vítimas daquele massacre. Mas não é também um livro sobre judeus. O texto é de uma humanidade tal que transcende qualquer dos rótulos étnico-religiosos que nós criamos para nos sentirmos melhores que aqueles que são ou acreditam em coisas só um pouco diferentes que nós. Não, o texto não é sobre o judaísmo ou sobre o anti-semitismo. A guerra é o pano de fundo. O cenário. O livro é simplesmente humano. É sobre uma criança - "We had a short circuit last night, and besides that, the guns were booming away until dawn. I still haven't got over my fear of planes and shooting, and I crawl into Father's bed nearly every night for confort. I know it sounds childish, but wait till it happens to you!" - e seu amadurecimento, apesar dos pesares. Apesar das dificuldades. Apesar de tudo, ela tinha que crescer, florescer e expressar esse amadurecimento de uma forma encantadora para todos que queiram admirá-lo.


É um livro sobre amadurecimento: "Sometimes, when I lie in bed I feel a terrible urge to touch my breasts and listen to the quiet, steady beating of my heart. Unconsciously, I had these feelings even before I came here. Once, when I was spending the night at Jacque's, I could no longer restrain my curiosity about her body [...] I asked her whether, as proof of our friendship, we could touch each other's breasts. Jacque refused. I also had a terrible desire to kiss her, which I did.". E sobre a inocência de uma adolescente nos anos 30: "A week ago, even a day ago, if you'd asked me, 'Which of your friends do you think you'd be most likely to marry?' I'd have answered 'Sally', since he makes me feel good, peaceful and safe!' But now I'd cry, 'Petel, because I love him with all my heart and all my soul. I surrender myself completely!' Except for that one thing: he can touch my face, but that's as far as it goes."

A menina é muito madura para a idade ao discutir temas complexos como feminismo, política e claro, o grande assunto de então, a guerra. Guerra que para ela e todos os envolvidos era constante causa de medo, desespero. Ainda que, no caso dela, sem perder a esperança. "I've reached the point where I hardly care whether I live or die. The world will keep on turning without me, and I can't do anything to change events anyway. I'll just let matters take their course and concentrate on studying and hope that everything will be alright at the end."


E, como todo o diário, é também uma invasão aos sentimentos mais íntimos da autora. Intimidade nos sentimentos (ou falta de) sobre a mãe - "I can't talk to her, I can't look lovingly into those cold eyes, I can't. Not ever! -If she had even one quality an understanding mother is supposed to have, gentleness or friendliness or patience or something, I'd keep trying to get close to her. But as for loving this insensitive person, this mocking creature-it's becoming more and more impossible every day!"

Passagem muito curiosa e, de certa forma, bonita: "When you are standing up, all you see from the front is hair. Between your legs there are two soft, cushiony things, also covered with hair, which press together when you are standing, so you can't see what's inside. They separate when you sit down […detalhada descrição anatômica...] The hole's so small I can barely imagine how a man could get in there, much less how a baby could come out. It's hard enough trying to get your index finger inside. That's all that is, and yet it plays such an important role!"

Encerro com uma pequena frase do fim do diário: "Maybe, Margot says, I can even go back to school in September or October.". Especialmente comovente porque sabemos que ela morreria poucos meses depois, em um campo de concentração. Ela que queria tão pura e simplesmente voltar pra escola. Se algum dos leitores do blog tiver alguma explicação racional para a guerra, favor compartilhar nos comentários.

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Um comentário:

Anônimo disse...

Cara! o livro é massa,
te indico da uma buscada no filme, que é igualmente de qualidade!
abs